Maria Augusta Ribeiro
Você já parou para pensar no quanto suas escolhas são, de fato, suas?
Seja ao decidir o que assistir no streaming, qual produto comprar em um e-commerce ou até mesmo que notícia ler, a verdade é que, cada vez mais, o consumo digital molda nossas decisões.
Não é à toa que o termo "algoritmização" tem ganhado espaço nas discussões sobre comportamento humano. Mas, afinal, somos nós quem escolhemos ou somos escolhidos por sistemas inteligentes que antecipam nossos desejos?
Antes de tudo, é essencial compreender o que significa "algoritmização". Esse conceito, que vem sendo amplamente debatido, refere-se ao uso de algoritmos para personalizar experiências digitais.
Eles analisam nossos dados – desde os cliques que damos até o tempo que passamos em uma página e, com base nisso, sugerem conteúdos, produtos ou serviços. Em teoria, isso parece ótimo: quem não gosta de receber recomendações que "combinam" com seus gostos? No entanto, há um lado sombrio. Quando tudo é tão personalizado, será que ainda temos espaço para descobrir algo novo?
A Ilusão da Escolha no Consumo Digital
Imagine a seguinte situação: você abre o Netflix para assistir algo novo. A plataforma, claro, já sugere uma lista de filmes e séries "perfeitos" para você. Mas, na prática, essas sugestões são baseadas no que você assistiu antes. Ou seja, se você viu comédias românticas nos últimos meses, é provável que o algoritmo continue empurrando mais do mesmo. Assim, a algoritmização, em vez de expandir seus horizontes, pode limitá-los.
No e-commerce a algoritmização define quais produtos aparecem em destaque para você. Já reparou que, depois de pesquisar um item, ele começa a "te perseguir" em anúncios nas redes sociais?
Isso não é coincidência, mas sim o resultado de sistemas que mapeiam seu comportamento online. Embora isso possa facilitar a vida, também levanta questionamentos éticos. Será que estamos realmente no controle ou apenas seguindo um roteiro pré-definido por máquinas?
O Impacto Psicológico e Social da Algoritmização
A algoritmização também influencia nossa percepção do mundo. Um estudo publicado na revista Nature Communications em 2022, intitulado "The Effects of Algorithmic Curation on Social Media Polarization", mostrou como algoritmos de redes sociais amplificam conteúdos que geram engajamento, como posts polêmicos ou sensacionalistas. Isso significa que, ao buscar notícias ou opiniões, você pode estar sendo exposto apenas a visões que reforçam suas crenças – um fenômeno conhecido como "bolha de filtro". Em outras palavras, a algoritmização não apenas molda o que consumimos, mas também como nos comportamos.
Além disso, há o impacto psicológico. A constante exposição a conteúdos personalizados pode gerar ansiedade, comparação social e até dependência digital. Afinal, quando tudo é feito para nos manter "engajados", fica difícil desligar. Por isso, é fundamental questionar: estou consumindo o que realmente quero ou apenas o que me foi apresentado?
Como Retomar o Controle no Consumo Digital
Embora a algoritmização seja uma realidade, existem formas de navegar nesse mar de dados com mais autonomia. Antes de tudo, comece sendo mais crítico com suas escolhas. Por exemplo, ao usar plataformas de streaming, experimente buscar categorias diferentes ou desativar as recomendações automáticas.
Outra dica valiosa é limitar o uso de dispositivos. Estudos, como o livro Minimalismo Digital de Cal Newport, sugerem que reduzir o tempo online ajuda a retomar o controle sobre suas decisões. Newport defende que, ao focar em atividades offline, como leitura ou hobbies, você desenvolve uma relação mais saudável com a tecnologia. Além disso, configurar notificações e usar ferramentas de controle de tempo, como o "Bem-estar Digital" pode fazer toda a diferença.
Por fim, eduque-se sobre privacidade digital. Ajuste as configurações de cookies, desative rastreamentos desnecessários e use navegadores que priorizam a proteção de dados. Assim, você reduz a quantidade de informações que os algoritmos têm sobre você, dificultando a manipulação.
À medida que avançamos para um mundo cada vez mais conectado, é inevitável que a algoritmização continue moldando nossas experiências. Contudo, a chave está em encontrar um equilíbrio. Sim, os algoritmos podem facilitar nossa vida, mas não devem ditar todas as nossas escolhas. Afinal, a verdadeira liberdade está em decidir por conta própria e isso exige esforço, consciência e, acima de tudo, intenção.
Portanto, da próxima vez que abrir uma plataforma digital, pergunte-se: estou escolhendo ou sendo escolhido?
Lembre-se de que o consumo digital é uma ferramenta poderosa, mas quem segura o leme é você. Seja curioso, questione e, principalmente, diversifique. Assim, você não apenas escapa das armadilhas da algoritmização, mas também constrói uma relação mais saudável com a tecnologia – e, de quebra, com suas próprias decisões. E aí, preparado para retomar o controle?
Maria Augusta Ribeiro é especialista em comportamento digital e Netnografia no Belicosa.com.br
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