Heber Lopes
Nos próximos anos, conectar passageiros à internet em ônibus, trens, embarcações e aeronaves será não apenas desejável, mas obrigatório por lei no Brasil. O Projeto de Lei nº 4.246/2024, em tramitação conclusiva na Câmara dos Deputados, determina que todos os meios de transporte coletivo de passageiros – públicos ou privados – ofereçam acesso gratuito à rede Wi?Fi.
De autoria do Deputado Marcos Tavares (PDT-RJ), o PL 4.246/2024 estabelece a obrigatoriedade de disponibilizar internet sem fio gratuita em todos os meios de transporte de passageiros no âmbito municipal, estadual e interestadual. Pelo texto, operadoras e concessionárias de transporte deverão instalar, manter e atualizar periodicamente os sistemas de Wi?Fi a bordo, assegurando a qualidade e continuidade do serviço em todo o percurso.
Ou seja, não basta oferecer sinal intermitente – a conexão deve ser estável durante toda a viagem. A navegação oferecida poderá ser limitada ao uso básico, permitindo acesso a informações, aplicativos de comunicação, e conteúdos educacionais, dentro das capacidades técnicas de cada sistema e considerando o número de passageiros simultâneos.
Adicionalmente, as operadoras devem adotar medidas de segurança de dados em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), de forma a garantir a privacidade e proteção das informações pessoais dos usuários.
Tecnologias de conectividade disponíveis
Ao planejar a implementação de Wi?Fi em frotas de transporte, os gestores devem avaliar as alternativas tecnológicas em termos de desempenho, disponibilidade e custos.
A implementação de conectividade móvel nos meios de transporte público pode recorrer inicialmente às redes celulares existentes (4G e 5G). Essa tecnologia oferece vantagens claras em regiões urbanas e corredores rodoviários bem cobertos por operadoras, com custos relativamente baixos e latência reduzida, normalmente abaixo de 50 ms.
No entanto, sua grande limitação é a cobertura desigual, que se torna fraca ou inexistente em áreas rurais e remotas. Para ampliar essa cobertura, seria necessário um extenso investimento na instalação de antenas adicionais ao longo das rotas, algo frequentemente inviável do ponto de vista econômico.
Outra abordagem possível é o uso de infraestrutura própria de Wi?Fi urbano ou redes mesh, independentes das operadoras móveis tradicionais. Nesse modelo, pontos de acesso são instalados ao longo das vias ou em estações, formando uma malha integrada que distribui o sinal aos veículos em movimento. Embora apresente vantagens em termos de baixa latência e altas velocidades locais, sua implantação em escala demanda um grande número de antenas, aumentando consideravelmente os custos e a complexidade operacional.
Dentro dessa perspectiva, a internet via satélite pode ser uma alternativa especialmente eficaz para rotas remotas e trajetos longos, onde as redes terrestres enfrentam limitações. Com destaque para as novas constelações de baixa órbita (LEO), essa tecnologia oferece latências muito menores em comparação aos satélites geoestacionários tradicionais, viabilizando aplicações interativas como chamadas de voz, videoconferências e navegação fluida.
Exemplos internacionais
A obrigatoriedade de Wi?Fi no transporte coletivo proposta no Brasil não é um caso isolado – globalmente, a demanda por conectividade móvel tem levado diversos países e empresas a investir em soluções semelhantes.
No setor aéreo internacional, por exemplo, o Wi?Fi a bordo via satélite é oferecido há mais de uma década em voos de longa distância, inicialmente com satélites geoestacionários. Mais recentemente, companhias aéreas na América do Norte, Europa e Ásia passaram a testar ou adotar serviços baseados em constelações de órbita baixa para aumentar a velocidade e reduzir a latência da internet durante o voo.
Em redes ferroviárias, a Europa tem buscado melhorar a conectividade em trens de alta velocidade, que historicamente sofrem com sinal instável. Projetos financiados por agências espaciais e empresas de telecomunicações resultaram em pilotos bem-sucedidos de internet banda larga via satélite em trens europeus.
Em países como os EUA, Canadá e Austrália – com vastas áreas rurais – empresas de ônibus interestaduais equiparam veículos com antenas satelitais para garantir que, mesmo cruzando desertos ou montanhas, os passageiros permaneçam conectados.
A experiência de outros países tem apontado que redes híbridas, unindo tecnologia celular e satelital para áreas de sombra, é uma opção viável e funcional
conectividade contínua e confiável. Testes recentes já confirmaram a eficácia desse modelo híbrido, proporcionando cobertura completa mesmo em longas rotas rodoviárias, garantindo assim uma experiência mais estável e satisfatória para os passageiros em deslocamento.
A partir dessa visão, a internet via satélite é uma peça fundamental na equação de conectividade do transporte público, atrelado a uma solução de conectividade, fornecendo alcance e resiliência onde as redes tradicionais não alcançam. É claro que o caminho até uma frota completamente conectada exigirá planejamento estratégico, parcerias e investimento mas, como em qualquer inovação em larga escala, haverá obstáculos no percurso, mas a visão de um transporte conectado, produtivo e inclusivo está mais próxima do que nunca de se tornar realidade.
Heber Lopes é Head de Produtos e Marketing da Faiston.
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