Gonçalo Antunes de Barros Neto
No dia 14 de fevereiro de cada ano se comemora o dia mundial do amor. Parece hilário termos um dia para comemorá-lo. Dele se pode dizer muita coisa, menos que é usado, abusado e doado. E olha que ironia, onde mais nos lembramos dele? No ódio. A dualidade maniqueísta - o bem e o mal - parece existir como missão, trazer à lembrança um e outro, não na prevalência, mas na ausência. Na instantaneidade do acontecimento, daquilo que nos falta que se mede o arrependimento. E repita-se, tanto de um quanto de outro.
No sentimento de injustiça, somente para exemplificar, o que sobreleva mais, senão o ódio? Sim, é sintomático. Aquele que não odeia não carrega a chama da reação. Contudo, é possível reagir apascentado no amor, com doação? Ou o ódio lhe é característico, variando somente de intensidade? E ainda, o amor afasta o ódio ou o ódio é quem afasta o amor?
Se para a resposta levarmos mais que segundos, diria que são de iguais necessidades. Então, poderíamos afirmar que quem nos deu a capacidade de amar, por correlação inversamente proporcional, brindou-nos com a indignação odienta? Ou há indignação amorosa? Entendo que haja, sim, mas somente na omissão. Seria mais ou menos assim: estou injuriado com essa situação; mas amo, então, o ideal para não ofender, para não criar arestas e mais sofrimento, me calo. Tudo bem (!) se, ao calar, consinto, num jogo circular e de aparente paradoxo.
É na própria presença que o amor se realiza. Contraditoriamente, se presente, esquecemos dele. Por outro lado, ao sentir muito ódio em determinado dia, algo terrível e injusto acontecendo, esse dia será sempre lembrado. Aqui está a lógica em que assenta o ódio, o seu papel, a razão de sua existência. Da mesma forma, as pessoas boas são identificadas pelo senso comum por que são boas ou, o que parece sintomático, o são em face das más? Sem a maldade, qual seria a importância do bem?
É interessante o papel das religiões nessa dualidade. Se Deus nos deu a quem amar, quem nos deu a quem odiar? Ou alguém por aqui flertaria com o anjo caído, o traidor da comunidade dos perfeitos? Ambos foram dados por quem? Jesus subjugou a satanás; o amor, portanto, venceu o ódio. A quem o Mestre dos mestres, o próprio amor feito pessoa, venceria se não houvesse o ódio?
Por isso o número três é dedicado à sabedoria, à maestria, pois, paira sobre a dualidade, está além dela. Ao subir os degraus da vida, de aprendiz a mestre de si, a pessoa deixa para trás o insignificante, o efêmero, para abraçar o espiritual, o que verdadeiramente interessa.
O contrário do amor lhe dá sentido, significância, e é esse o papel do ódio no mundo. Sua importância está no apontar, indicando o próprio paradoxo e a própria fraqueza frente a seu oposto. O erro e a ignorância se alimentam do ódio, mas cede o lugar aos bons pensamentos e ao espírito que constrói.
A construção de caminhos do bem é o que o Brasil precisa. Seu povo já sofreu o suficiente ficando entre os extremos da intolerância e da falta de liberdade. O amor vencerá a estupidez e falta de inteligência. A sabedoria abraçará esta terra de gente ordeira e alegre.
É por aí...
Gonçalo Antunes de Barros Neto é magistrado e professor de Filosofia na ESMAGIS/MT. (email: bedelho.filosofico@gmail.com).


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