Dra. Andréa Ladislau
Não há dúvidas que estamos vivendo uma era cujos transtornos mentais, neuroses ou adoecimento mental só aumentam, evidenciando o sofrimento humano frente aos desafios. Estamos falando mais sobre terapia, cuidados pessoais e saúde mental, porém esse movimento ainda é muito tímido e carregado por desconfianças.
Além disso, não podemos fechar os olhos para o consumo excessivo de medicamentos controlados para tratar as dores emocionais, seja por adultos e até por crianças. Ou seja, tudo isso aponta para uma triste tendência real e cada vez mais escancarada, nos dias atuais: a patologização do viver.
As emoções e os sentimentos, naturais a todo ser humano, passam a ser considerados distúrbios ou transtornos disfuncionais. O "Sofrer" passa a ser um crime, uma negação. Quando na verdade, sofrer faz parte do curso natural da vida. Precisamos dos desafios e das dificuldades para impulsionar as metas e nosso autoconhecimento.
Lidar com a dor é um desafio de todos. Por isso, é fundamental encarar o sofrimento como um aspecto natural da vida. Claro que, alguns vão ter maior facilidade para vivenciar uma dor, seja ela qual for. Enquanto outros, terão um pouco mais de dificuldade. Afinal, nossas experiências de vida, ditam e muito, nossa capacidade de tolerância.
Saber como olhar para essa dor e acolhe-la, é a chave para o equilíbrio físico e mental. Já que, sofrimento não é sinônimo de doença. Rotular sentimentos e emoções sem o cuidado necessário, é uma grande armadilha. Motivo pelo qual, a terapia é imprescindível no processo de cura, pois permite e promove a escuta ativa, o acolhimento da dor e a expressão genuína dos sentimentos.
Esse desvio comportamental e de pensamento, contribui para reduzir a normalização de emoções legítimas, como: tristeza, alegria, raiva, dor, angústia, cansaço, entre outros. Com isso, a busca por cuidados paliativos também reflete uma elevação no consumo de medicamentos especiais que, em muitos casos, suscita impactos expressivos, como a dependência, sem indicação adequada e complementação terapêutica.
Além disso, muitos remédios estão se tornando ícones de uma sociedade psiquicamente doente. São milhões de caixas de remédio consumidas para dormir, acordar, emagrecer, sorrir e ficar feliz, diminuir a ansiedade, melhorar o humor, aumentar a libido, dentre outros objetivos.
E o mais assustador dos dados: o número de crianças e jovens fazendo uso regular e contínuo de medicações psiquiátricas, triplicou nos últimos dois anos. No entanto, o objetivo não é colocar os medicamentos como vilões. Pelo contrário, eles são muito importantes no sucesso do combate às doenças. O problema é o excesso e a automedicação.
Portanto, a conclusão é que falta leveza e resiliência para encarar os desafios cotidianos. Nossos limites precisam ser respeitados, assim como as nossas falhas, fraquezas devem ser reconhecidas.
É preciso encarar de frente os sentimentos e emoções, antes de lançar mão de rótulos de diagnósticos diversos, como resposta à dor. Além disso, não podemos esquecer que a mente reflete no corpo tudo aquilo que não está bem elaborado.
O corpo serve como um alerta às dores psíquicas que podem ser trabalhadas, através do autoconhecimento e de um olhar mais acolhedor para identificar gatilhos. Enfim, esse é o caminho correto para evitar o aprisionamento mental e físico que dopa, rotula e limita as relações sociais e as rotinas diárias.
Dra. Andréa Ladislau é Psicanalista.


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