Gonçalo Antunes de Barros Neto
Os animais nascem com instintos de sobrevivência e, em sua esmagadora maioria, são relativamente independentes da ascendência. Os humanos precisam compensar isso, essa deficiência orgânica, sendo a medida de todas as coisas (Protágoras).
Avançando no tempo, de empirismo moderado ao racionalismo, não há como negar o conceito inato. Muitos conceitos são intuídos e os humanos os aplicam em casos específicos. Outros, nada são que deduções dos primeiros, consequências de uma proposição intuída. Para o racionalismo, a intuição é um tipo de percepção racional.
O crime de homicídio, por exemplo, antes mesmo de ser positivado em códigos penais já é objeto de aversão pela recusa intuitiva de qualquer pessoa. Se mata por inúmeros fatores, mas se reconhece como proibido, funcionalmente, como se fosse um gatilho de ativação de dada situação conflitante para a mente, independente dos preceitos legais.
Para os sofistas, as leis não são dadas pela natureza, são criações humanas. Isto parece fazer coro ao positivismo jurídico. Mas, intuitivamente, a razão ‘a priori’ não censura determinados comportamentos? Não se quer aqui retratar o eterno debate entre naturalistas e positivistas, e sim fazer breve acomodação do pensamento racionalista com a ideia de conceitos inatos.
A razão despreza os sentidos; quem não os despreza é a capacidade de compensação humana que, ao sentir-se acuada, cria conceitos por deduções dos que já intuía de forma inata.
Há conceitos (tomados como ideias para efeito deste texto) fortíssimos que são até maiores que o instinto de sobrevivência nos humanos. Sócrates não fugiu da morte. O fugir da dor, normal nos animais, é caro aos homens e mulheres quando se joga com valores erigidos por conceitos inatos.
Não existe prova acerca da existência de Deus. Correto. Então, o que leva à crença, à fé? Essa disposição é intuitiva (tipo de percepção racional) ou não? É racional a conclusão de que se não há prova da existência de Deus, também não há de que Ele não existe.
Nada é mais forte e, por isso, objeto de convicção do que aquilo que, em não sendo possível comprovar empiricamente (mundo sensível), intuí-lo.
A doutrina platônica da “anamnese” se expressava assim: “Como a alma é imortal e nasceu muitas vezes e viu todas as coisas, tanto aqui como no Hades, nada há que ela não tenha aprendido: de modo que não espanta o fato de que possa recordar, seja em relação à virtude, seja em relação a outras coisas, o que antes sabia” (Abbagnano, Filosofia).
A intuição faz parte da reação humana contra a humana inação. “As mãos que fazem valem mais que os lábios que rezam” (Madre Tereza de Calcutá).
É por aí...
Gonçalo Antunes de Barros Neto tem formação em Filosofia e Direito pela UFMT (email: bedelho.filosofico@gmail.com).
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