Vivaldo Lopes
Uma das tarefas mais ingratas para os economistas é produzir o artigo ou relatório ao final de um ano falando sobre as tendências econômicas para o próximo. Farei nesta coluna a análise do cenário que atribuo como o mais provável para a economia de Mato Grosso em 2021.
A economia global deverá retomar, ainda que lentamente, os níveis de atividade anteriores à pandemia, com os gigantescos estímulos econômicos que todos os países desenvolvidos estão despejando em seus respectivos mercados e redução das incertezas políticas com a posse do novo presidente americano Joe Biden. A China será a locomotiva da retomada do crescimento global.
Nos dois últimos trimestres a economia brasileira mostra boa recuperação dos impactos da covid-19. Os números dos indicadores setoriais, dados do retorno da população às compras sugerem isso. Parte da indústria, como a construção civil e a digital apresentam ritmo até mais intensos do que antes da crise. No comércio, o varejo digital, as vendas de materiais de construção, de móveis e eletrodomésticos também estão mais de 20% acima do observado no terceiro trimestre de 2019. As transferências fiscais maciças do governo federal para estados e municípios e outras medidas de suporte monetárias, como o auxílio emergencial, prudenciais e tributárias explicam boa parte desse dinamismo. Após o relaxamento do distanciamento social, há indícios de que a volta ao trabalho é significativa, tendo começado a ocorrer também entre os trabalhadores empregados sem carteira ou por contra própria. Em regiões de predominância da agropecuária, os indicadores são ainda mais favoráveis.
Trabalho com o cenário base que o PIB brasileiro crescerá 3,5% em 2021. A inflação não sofrerá sobressaltos, ficando próxima de 4% e os juros continuarão baixos com a taxa Selic estabilizada em 2%, com possível viés de suave alta, caso alguns preços continuem subindo no primeiro trimestre.
As idiossincrasias locais tornam as expectativas para a economia de Mato Grosso mais otimistas que as nacionais. A agropecuária, principal motor da economia estadual, terá em 2021 outro ano de ouro. Se 2020 já foi o melhor ano do agronegócio desde 2003, o próximo será ainda melhor. O agro vai colher outra grande safra de soja, milho e algodão. A pecuária também aumentará a produção de carnes bovinas, suínas frangos e ovos. O consumo doméstico continuará em alta com o reaquecimento da atividade econômica e a consequente recuperação de parte dos empregos e da renda do trabalho.
A demanda da China seguirá aquecida, em razão das necessidades daquele país, que retomou o crescimento muito antes dos demais países. Os baixos estoques mundiais de mercadorias agrícolas, preços internacionais elevados (em dólares) e a taxa de câmbio favorável, atuarão para a expansão das exportações agropecuárias (soja, milho, carnes), aumentando o faturamento e lucros do setor. A indústria do etanol está acelerada devendo superar os 4 bilhões de litros anuais. A infraestrutura de transportes terá forte impulso com a privatização do trecho da BR 163 de Sinop a Miritituba, no Pará. A administração federal deverá, também, autorizar o início da construção da ferrovia que ligará a cidade de Mara Rosa, em Goiás, até Água Boa-MT. A operadora ferroviária Rumo deve iniciar a construção do trecho da ferrovia Vicente Vuolo de Rondonópolis a Cuiabá e Nova Mutum.
Espera-se para o segundo semestre o leilão da concessão da ferrovia que ligará Sorriso à mesma cidade de Miritituba (PA). O governo estadual também está passando à iniciativa privada a operação de vários trechos de rodovias estaduais. Essas concessões exigirão grande aporte de capitais das empresas vencedoras, aumentando a geração de empregos na indústria da construção civil e nos novos empreendimentos da cadeia de serviços correlatos.
A administração estadual anunciou um grande plano de investimentos (2021–2022) em montante de R$ 9,5 bilhões para melhorar a infraestrutura econômica nas áreas de turismo, construção e manutenção de rodovias, ampliação e digitalização de diversos serviços públicos. O equilíbrio fiscal e o plano de investimentos melhoram o ambiente de negócios e atraem novos investimentos.
O cenário mais provável é de crescimento da economia de Mato Grosso em 7,5% em 2021.
Os principais fatores de risco que podem alterar esse cenário são: a) uma nova onda da covid-19 que exigirá novas e severas medidas restritivas; b) deterioração do poder de consumo das famílias caso o aumento de preços persista; c) o governo federal não aproveitar o bom ambiente da retomada do crescimento para aprovar as reformas junto ao congresso nacional. A conferir.
Vivaldo Lopes é economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP (vivaldo@uol.com.br)
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