Eduardo Gomes
Frondoso, imponente, o tamboril na Praça dos Carreiros, na esquina da Amazonas com a Dom Pedro II, protegia do sol os elefantes dos circos que se armavam naquele local. Acorrentados pelas patas dianteiras, os paquidermes eram mantidos ali até a hora do espetáculo, onde um domador com seu chicote os forçavam a realizar apresentações cadenciadas. Tristes retratos do ontem, que destoavam da explosão de vida, vitalidade e liberdade na minha Rondonópolis nos anos 1970.
Não somente os elefantes eram explorados. Pior ainda: nas portas das pensões havia cenas mais dantescas. Peões embriagados esperavam que aparecesse um gato para pagar suas despesas com os hospedeiros e, assim, os liberassem e os levassem na carroceria de uma Toyota Bandeirante para alguma fazenda que estava em fase de abertura.
As ilhas da insensibilidade humana com os elefantes e peões eram ofuscados pelo riso da plateia com a exibição no picadeiro e pela derrubada do cerrado para a semeadura da braquiária. As luzes circenses e o fortalecimento da pecuária davam um quê de felicidade e desenvolvimento econômico à cidadezinha de nariz empinado encravada no solo vermelho na barranca esquerda do rio Poguba.
Nenhuma enchente em córrego suja as águas dos rios. Com Rondonópolis também foi assim. Havia tanta luz e coração na construção de seus alicerces que nem mesmo o sofrimento dos elefantes e a tragédia dos peões poderiam impedir que fossem transformados na metrópole de agora.
Luz é o que ditava o tom das cartas que o primeiro prefeito eleito Daniel Moura escrevia aos seus amigos no Maranhão e no norte de Goiás que mais tarde seria Tocantins. Daniel pintava uma Rondonópolis imaginária e os convidava para participarem da sua construção enquanto seus moradores. Quem aceitava o desafio via que se tratava de ufanismo do prefeito e o pressionava por isso. Quando encostado à parede, o mandatário exercitava o melhor de seu jogo de cintura político. Dizia que seria possível alcançar o patamar por ele inventado, desde que todos, incluindo o recém-chegado fizessem sua parte.
Daniel gostava de falar sobre suas cartas. Muitas vezes o ouvi em sua casa na Rua 13 de Maio. Sentando numa cadeira de fios, revelava como fizera das tripas coração pra empurrar sua cidade. Infelizmente, aquele sonhador não está mais entre nós. Fechou os olhos. Levou para o túmulo o melhor da dignidade no exercício da vida pública.
Rondonópolis sequer tinha acesso por rodovia a Poxoréu, até que o garimpeiro mineiro Jacinto Silva, usurpando o papel do governo, no melhor sentido da palavra, rasgou a machado a rodovia Deputado Osvaldo Cândido Pereira (MT-130). Jacinto morava em Poxoréu, onde o diamante fazia fortuna da noite para o dia. Como se vê, rondonopolitanos e seus vizinhos se irmanavam na luta pelo desenvolvimento.
Assim será o teor do meu livro sobre Rondonópolis, que pretendo editar o mais breve possível, apesar das dificuldades por não contar com apoio as leis de incentivo cultural. Espero tê-lo entre meus leitores.
Eduardo Gomes de Andrade é jornalista
eduardogomes.ega@gmail.com


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