Volto a um tema que tenho abordado em artigos, palestras e encontros desde sempre: a evolução da matriz econômica de Mato Grosso.
Mato Grosso é protagonista da mais acelerada dinâmica de crescimento econômico do país desde 1995, quando o então governador do estado Dante de Oliveira iniciou a mais profunda reestruturação administrativa do estado. Equilibrou as contas públicas estaduais, modernizou as instituições, desenvolveu programas de incentivos ao crescimento, colocando o estado na trilha do desenvolvimento sustentado.
Os governantes que o sucederam, mantiveram a estratégia desenvolvimentista, aperfeiçoaram e criaram novos programas, consolidando as condições para o crescimento continuado da economia estadual.
Tendo como locomotiva econômica a produção de grãos, carnes, fibras e madeiras, o estado exibe um verdadeiro “crescimento chinês”, tornando-se o maior produtor agropecuário do país. Nas três décadas seguintes, o estado deixou a condição de estado subdesenvolvido e entrou para o time de economias emergentes. Agora prepara sua entrada no seleto clube dos estados brasileiros desenvolvidos. Um feito estratégico honroso e muito comemorado por todos os mato-grossenses e brasileiros de outras regiões que vieram e contribuíram para essa grande façanha.
A saudável aliança dos governos estadual, federal e o capital privado otimizou as vantagens comparativas estaduais (solo, água, clima, baixa ocorrência de intempéries naturais). Os intensos investimentos públicos e privados em tecnologia e infraestrutura logística explicam grande parte do sucesso da agropecuária estadual.
A sintonia fina com as demandas dos mercados doméstico e internacional pelas commodities do agro é outro componente importante do avanço produtivo regional.
A etapa seguinte da plataforma agropecuária foi a expansão da produção de grãos, fibras e carnes para todas as regiões geográficas do estado e expressivo aumento da produção, produtividade e rentabilidade. O conjunto dessas variáveis fez de Mato Grosso um fenômeno econômico nacional e um robusto “player” agropecuário mundial. Tudo isso, sustentado numa matriz produtiva agroexportadora de bens primários.
Para a sequência evolutiva da economia estadual a longo prazo, com sustentabilidade ambiental, social, redução das desigualdades sociais e regionais, o caminho natural é a transição da atual matriz agroexportadora primária para uma matriz econômica industrializada e processadora de alimentos, fibras, celulose, energia verde e movelaria.
Essa transição já se encontra em marcha. Motivados pela estabilidade macroeconômica do país e do estado, bom ambiente de negócios, aumento da renda do trabalho, melhorias da infraestrutura logística, investimentos privados estão sendo alocados em Mato Grosso nas mais diversas áreas. Como a construção de 733 km da ferrovia de Rondonópolis até Lucas do Rio Verde, com terminais em Primavera do Leste e Cuiabá e construção de novas plantas industriais processadoras de carnes bovinas, frangos e suínas.
As dez maiores empresas processadoras de alimentos do mundo já possuem plantas em Mato Grosso e quase todas já anunciaram expansão de unidades e construção de novas. À guisa de exemplo, a planta frigorífica da JBS em Diamantino, que antes tinha capacidade para processar 1.200 cabeças de gado por dia, aumentou para mais de três mil cabeças, empregando mais de 2 mil trabalhadores na fábrica.
O ramo industrial que teve maior crescimento foi a indústria de etanol de milho. De 2015 a 2023 foram instaladas 12 indústrias que produzem etanol a partir do milho e várias outras estão em construção. Em 2015 o estado não produzia nenhum litro de etanol de milho. Em 2024 vai produzir 4,5 bilhões de litros, agregando mais valor à produção agrícola.
A evolução para uma economia mais industrial não significa abandono da vocação natural do estado, que é produção agropecuária de alto rendimento e boa rentabilidade. Ao contrário, exigirá esforço concentrado do agronegócio e da agricultura familiar que são os grandes provedores da matéria prima a ser processada aqui mesmo.
A transição vai exigir de toda a sociedade, líderes políticos, empresarias, trabalhadores, grande capacidade de atuação de forma integrada e planejamento para superar desafios nas áreas de formação do capital humano, logística, sustentabilidade ambiental e social.
Entendo que esse novo ciclo de desenvolvimento econômico de Mato Grosso será o mais longevo e sustentado de todos os ciclos anteriores que, cada um a seu modo e a seu tempo, ajudaram a conduzir o estado à respeitável posição que ocupa atualmente na cena econômica nacional e mundial.
Vivaldo Lopes é economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP (vivaldo@uol.com.br)
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