Estamos todos assustados pelas adversidades climáticas enfrentadas este ano em Mato Grosso. A pergunta que estamos nos fazendo: Ainda há tempo? Penso que sim, mas é importante refletir sobre o recorde histórico da temperatura aliado à baixíssima umidade, o que tornou a condição de vida muito difícil na capital mato-grossense.
Para piorar, na Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá (exceto Chapada dos Guimarães), localizada na província geomorfológica Depressão Cuiabana, a fumaça das queimadas pairou no ar transformando o cenário em um filme de guerra. Frente a isso, ainda restam esperanças para uma vida saudável?
Como urbanistas, jamais devemos desistir, apesar de ultimamente ter pensado em me transferir para lugar mais salutar, mas, criei raízes, então, mãos à obra! Há ações que todos nós podemos realizar para amenizar a situação, mas há aquelas em que os gestores precisam agir para combater as adversidades, e que estas sirvam de alavanca para a grande virada, transformar os municípios da Região Metropolitana em exemplo de sustentabilidade ambiental.
As campanhas dos candidatos a prefeito começaram, no entanto, qual deles efetivamente está interessado em reverter o superaquecimento da capital que era conhecida até a década de 1990 como "Cidade Verde"? É importante frisar que, de nada adianta trabalharmos individualmente, pois a qualidade de vida depende de uma política pública em médio e longo prazo.
Quando iniciei na área de planejamento urbano, recebi a orientação de que os ventos predominantes na capital vêm de Norte e Noroeste, portanto, as áreas de cerrado dessas regiões, deveriam ser mantidas para que o vento, apesar de pouca intensidade, passasse pela massa verde trazendo um pouco do seu frescor.
Há também diversas nascentes que deságuam no rio Cuiabá ali localizadas. Infelizmente, essas orientações não foram seguidas e as áreas estão sendo devastadas. Muitas delas foram substituídas por empreendimentos imobiliários que sem respeitar o planejamento sustentável para a cidade e vão transformá-las em um local inabitável do ponto de vista humano.
Diversas ações que não demandam grandes obras e nem muitos recursos financeiros já podem ser executadas, tais como: preservar a vegetação nativa (r)existente, nas áreas localizadas à Norte e Noroeste; recuperar as áreas de preservação permanente das nascentes, olhos d'água e de margens de córregos; plantar árvores nativas diversificadas nas praças, vias públicas, fundos de quintal, terrenos ociosos públicos ou privados (manter o verde é função social da propriedade).
Outro grande incentivo: propiciar desconto em IPTU dos imóveis com árvores adultas cadastradas (em Cuiabá essa lei foi revogada em favor das finanças municipais); reduzir o uso de veículos automotores, priorizar deslocamentos a pé ou de bicicleta, construir calçadas acessíveis e arborizadas, de ciclovias/ciclofaixas; implantar fontes de água com aspersores em locais de grande circulação de pessoas.
Criar vários pequenos parques públicos, próximos aos locais de moradias; disponibilizar transporte público coletivo moderno e com qualidade, com otimização de rotas aproveitando vias subutilizadas fora do centro, e trabalhar o transporte integrado na Região Metropolitana.
Criar vários pequenos parques públicos, próximos aos locais de moradias; disponibilizar transporte público coletivo moderno e com qualidade, com otimização de rotas aproveitando vias subutilizadas fora do centro, e trabalhar o transporte integrado na Região Metropolitana. Por mais que isso "não dê voto", implantar Sistema de Coleta e Tratamento de Esgoto com suspensão imediata da deposição das águas sujas em corpos hídricos, esse último o mais complexo, porém urgente.
Quem sabe se executando as ações propostas consigamos reverter esse quadro caótico e melhoramos nossa qualidade de vida. Candidatos, o que têm a nos dizer?
Jandira Maria Pedrollo é arquiteta e urbanista, ex-diretora de Pesquisa e Informação do IPDU Cuiabá, e membro da Academia de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso (AAU-MT), jandirarq@gmail.com
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