Os partidos políticos se movimentam. Vão ora para um lado ora para outro. Movem-se conforme os interesses e as conveniências dos coronéis da política. Coronéis que os tratam como propriedades suas. Pouco ou quase nada valem as vontades dos demais filiados, ainda que parte das vontades seja discutida e deliberada por assembleias. Mesmo que o deliberado tenha o crivo e aprovação dos coronéis, sempre há quem, nos Parlamentos, venha a ignora-lo, e vota diferentemente do acertado. Nada, porém, acontece com o parlamentar-infrator.
Embora haja dispositivos no estatuto partidário para puni-lo. Estatuto que, sequer, fora folheado ou visitado um dia pela quase totalidade dos filiados. Nem ao menos no instante em que assinaram as fichas de filiação. Fichas que são trocadas, assim como se trocam um pareio de roupas. Não importam com as cores, nem com a carga ideológica das siglas. Carga ideológica que está presente no estatuto, mas, como este é um objeto desconhecido, embora exposto na sala de estar, ninguém o enxerga de verdade. Se o enxergasse, ainda que sem poder vê-lo, saberia que ele, o estatuto, é o coração da agremiação partidária.
Coração que bate, agita e até deixa de pulsar quando o sangue tem obstruído a sua passagem. É assim com o próprio viver. E o viver partidário em nada se diferencia. Ou deveria, pois, há muito, os partidos políticos do país sofrem de inanição. Foi assim com os do passado. Os de outrora estão mortos, não revivem jamais, ainda que seus nomes venham a ser usados. Esta reutilização nada tem a ver com o reviver da história, mesmo que seja isso o almejado, e muitos procuraram fazer isso, até com o fim de atrair antigos simpatizantes, mas, definitivamente, sem êxito algum. Não se ressuscita partido algum. Por mais vontade que se tenha. Vontade não traz o vivido de volta. Lembrá-lo, certamente. Memorizado, também. Nunca trazê-lo com vida.
Embora a lembrança possa ser uma espécie de reviver. Revive-o, assim como se faz com os fatos, com as passagens históricas, com as cenas de uma noite de amor pretérita. Pretérito, embora presente, dificilmente vem à luz fisicamente, afinal, as águas de ontem, jamais escorrerão pelo mesmo leito, tampouco por nenhum outro. Ainda que se tenha a impressão ser diferente. Mas não é. Bem mais com os partidos políticos. Nascidos, no país, semimortos, mesmo que um ou outro deles já vem de uma longa jornada. Jornada que se confunde com a história de seus coronéis. Coronéis que se tornaram muitíssimo maiores que suas siglas. Indicativo da pequenez delas, cujo papel se tornou apenas como local para carimbar o passaporte para alguém se colocar como candidato a um cargo eletivo, afinal, por aqui, inexiste candidatura avulsa, nem o lançamento de candidato sem ter o seu nome inscrito na lista de um partido.
Partido que nunca cumpriu com suas tarefas basilares, e uma delas o de instigar os segmentos da sociedade, com o fim de fazê-los analisar e discutir determinados temas, problemáticas, para em seguida, saírem à cata de subsídios necessários e imprescindíveis para comporem seus discursos, e, mais ainda, seus programas de governo. Programas que nascem do embate interno, gerados no ventre partidário, com a participação de filiados e militantes. Situação nunca presenciada. Por isso, infelizmente, os eleitos para a chefia do Executivo, depois de suas posses, passam a governar sempre de improviso. A improvisação, quando permanente e constante, definha a administração pública, trazendo prejuízos enormes ao conjunto da população, em especial para os excluídos. É isto.
Lourembergue Alves é professor universitário e analista político.
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