Mato Grosso iniciou seu ciclo acelerado de crescimento a partir de 1995, apropriando-se de um conjunto de fatores econômicos, administrativos, tributários, geopolíticos e vantagens comparativas edafoclimáticas.
Na seara político-administrativa, em 1998 o então governador do Estado, Dante de Oliveira e sua equipe econômica anunciaram que as contas públicas estaduais haviam atingido o equilíbrio fiscal depois de um longo e tenebroso período de déficits fiscais. Restabeleceu a capacidade de investimentos para melhorar a infraestrutura econômica e social.
A melhora no ambiente de negócios criou condições para o capital privado também investir, diante das perspectivas de estabilidade e boa lucratividade. Um ousado e bem estudado programa de incentivos fiscais atraiu novas empresas para terras mato-grossenses, visando aproveitar a onda de crescimento da economia estadual.
Em 13 de setembro de 1996, o Presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou a Lei Federal n. 86/96, chamada Lei Kandir. Essa lei nacional desonerou completamente as exportações de bens primários, aquisição de insumos agropecuários e reduziu fortemente a tributação de bens agropecuários nas transações interestaduais.
O agribusiness, que já havia sido impulsionado por programas de financiamentos subsidiados nas décadas de 1970-80 e se beneficiado das excelentes pesquisas da estatal Embrapa e de pesquisas privadas, cresceu de forma exponencial. Ocupou espaço nas cadeias globais de valores, tracionando, por sua vez, os setores do comércio, serviços, indústria e ajudando a aumentar a arrecadação estadual.
Mato Grosso passou a crescer como os Tigres Asiáticos (China, Coréia do Sul, Japão, Taiwan). Daí o apelido de “Tigre Pantaneiro”. Valendo-se dessas vantagens competitivas, a agropecuária teve sucessivos aumentos da produção, da produtividade e lucratividade nas décadas seguintes, elevando Mato Grosso à posição de campeão nacional em produção rural (soja, milho, algodão), carnes (bovina, suína e frangos), biocombustíveis. O estado tornou-se uma grande plataforma exportadora e um gigante mundial em produção agropecuária.
Quando se analisa a trajetória do desempenho econômico de Mato Grosso, três fatores chamam especial atenção dos analistas.
O primeiro: o excepcional crescimento do setor agropecuário “transborda” para os demais setores (indústria, serviços, comércio, administração pública). Isso fica evidente desenvolvimento célere da indústria de etanol de milho. Em 2015 o estado produzia 12 milhões de toneladas de milho e não existiam plantas industriais de etanol de milho. Em 2023, o estado produz 50 milhões de toneladas de milho, existem 10 plantas industriais de etanol de milho em operação e mais duas em fase final de construção. Em sentido contrário, quando a agropecuária sofreu crises conjunturais, como a de 2005/2006, o PIB estadual também teve queda acentuada.
O segundo fator é o descolamento de Mato Grosso do desempenho da economia do país. De 2000 a 2020, últimos dados do PIB dos estados publicados pelo IBGE, Mato Grosso cresceu três vezes mais que a economia nacional. Nesse período, segundo o IBGE, enquanto a economia brasileira cresceu a uma média anual de 2,3%, a de Mato Grosso cresceu 5,4%. Em 2022, a economia do Brasil cresceu 2,9%.
Estudo que analisa o desempenho trimestral do PIB estadual, elaborado e divulgado pela Secretaria de Estado do Planejamento e Gestão, utilizando a mesma metodologia do IBGE, apresenta estimativa preliminar que o PIB estadual cresceu 7,7% em 2022. Os dados são preliminares, pois os oficiais do desempenho do PIB dos estados são divulgados pelo IBGE com dois anos de defasagem.
O terceiro fator: a economia de Mato Grosso cresce independentemente da orientação ideológica e administrativa dos governadores e da Administração Federal. De 1995 até os dias atuais, Mato Grosso foi liderado por govenadores de matizes ideológicas e orientação administrativa bem distintas. Mesmo assim, a economia manteve sua marcha acelerada de crescimento. Tivemos oito anos sob a liderança de Dante de Oliveira, Blairo Maggi, Silval Barbosa, quatro anos com Pedro Taques e, atualmente, mais cinco anos sob a gestão do governador Mauro Mendes.
Nesse longo período, salvo alguns anos atípicos, o desempenho chinês da economia estadual não foi afetado. Demonstração inequívoca da dinâmica endógena vencedora da forte economia de Mato Grosso.
As projeções macroeconômicas indicam que o ritmo econômico estadual continuará em alta nas próximas décadas. Terá sua expansão favorecida pelo novo ciclo de industrialização da produção agropecuária, o que vai ampliar a cadeia de valores e melhor qualificar o desenvolvimento econômico e social do estado.
Vivaldo Lopes é economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP (vivaldo@uol.com.br)
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