• Cuiabá, 26 de Junho - 00:00:00

Tarde Demais!

As movimentações continuam. Idas e vindas. Políticos conversam, desconversam, voltam a conversar, fazem e desfazem acordos, tratam e desmancham o que deixaram tratados. Parecem mais um balé, com coreografia definida e própria, embora sem nenhum apreço a estética, aos passos cuidadosamente metrificados, tais como as de uma real bailarina. Até o bailado é diferente. O eco também. Ouvem-se gritos, chiadeiras, vivas, sem serem, de fato, ovacionados.

Tampouco se parecem com as mexidas em tabuleiro de xadrez, ainda que se pense ser. Pois, enquanto neste, os movimentos são religiosamente pensados, cautelosos e bem sincronizados, ainda que estejam carregadas de erros; os naquele, da política, as pedras são deslocadas de um lado para outro, quase robotizadas, impulsionadas por particularidades que nada tem a ver com o todo, ou com o conjunto das peças, também em bailado. Bailado, por vezes, estranhos.

Tanto que não raro são os descompassos. Descompassos negados, sem que venham, e geralmente não os são, ainda que pareçam ser escamoteados, sem sê-los, de fato. Cabe aqui, a título de exemplo, a migração partidária. Migração, cujo caráter está longe de dizer respeito a uma bandeira, ou a um programa ou projeto, uma vez que estes inexistem. Existem tão somente os interesses particulares. São estes não os da coletividade, a movimentarem tudo.  

Assim, filiações são festejadas, enquanto outras nem tanto, sem as quais aquelas não se registrariam, e mexem com a chamada janela partidária. Janela que nada tem de indiscreta, nem poderia, pois escancara de vez a infidelidade, sem que se sinta vergonha pelo feito ou realizado. Institucionaliza, então, a irresponsabilidade, despido de pudor ou algo do gênero.

E, então, como se nada tivesse acontecido, os atores retornam a cena, como se antes tivessem saídos, na tentativa de salvarem suas próprias cabeças, pois a guilhotina da urna é implacável, emoldurada por regras rígidas, tais como o aumento do índice percentual da cláusula de barreira, o fim da coligação para a proporcional e a mudança para se concorrerem das sobras.

O funil se estreita. Mas o jeitinho brasileiro pode mexer com isso. Jeitinho materializado em federação. Algumas siglas, não só as pequenas, têm se mexidos para ajudarem a construírem uma federação. Outros, tais como o PV e o Rede recusam-se a fazer parte da que está sendo viabilizado pelo PT. Talvez porque acham que podem sozinhos eleger representantes nos Parlamentos, ou porque se recusam a servir de escadas para candidatos petistas, ou uma terceira hipótese, porém, não ainda formalizada, ou quem sabe a feitura de outra federação.

De todo modo, os riscos existem, e estes são necessários observá-los, ou ter clareza deles, até para que não venham a se arrepender. Arrependimento que podem lhes custar o corte do fundo partidário e do horário político-eleitoral de rádio e de televisão. Situação complicada. Não inevitável. Embora não se está em redemoinho, onde a palavra de ordem: “salve-se quem puder”.

Enquanto isso, em meio ao tiroteio, sem qualquer escudo, encontra-se a população, alheia a aritmética utilizada por partidos e políticos. E o ficar alheia, nada contribui, tampouco traz benefício algum, apenas acarreta mais e mais prejuízo, afinal, aos olhos desinteressados passam e perpassam as negociatas, enquanto as necessidades populares são esquecidas, ignoradas, não levadas em consideração.

Nada adianta reclamar depois. Ainda que haja fundamento no reclamado. Sempre há. Mas aí já é bastante tarde. Tarde demais para se fizer presente, pois as labaredas da improvisação realçam, ao longe, o fogaréu da incompetência que toma conta de toda a administração. É isto.

 

Lourembergue Alves é professor universitário e analista político.        



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