Algumas características são inerentes ao empreendedor. A visão clara de futuro, por exemplo, é uma delas. Se você parar para pensar, tudo que você está visualizando foi sonhado antes. Você está lendo este artigo de um computador, celular ou tablet, que provavelmente foram sonhados por um ou mais empreendedores. O prédio que você mora, a casa, o carro que você anda, o banco que está o seu dinheiro: todos estes bens foram simples ideias que alguém (ou “alguéns”) muito obstinado tirou do mundo da imaginação.
Existe, aliás, um ditado que fala que “sonhar não paga nada”, mas tirar o sonho do papel tem o seu preço e, dependendo do tamanho dele, você gastará uma vida inteira. E eis o segundo ingrediente do empreendedor: a coragem.
Deixar de ser quem você sempre foi para correr atrás de um sonho exigirá uma nova versão. Novas habilidades, novas competências, novas amizades, novos lugares e isso é extremamente desconfortável e contra a natureza, já que sempre buscamos conforto.
Depois da coragem, será preciso construir seu foco e desenvolver disciplina. Esta etapa é totalmente importante para pavimentar o seu sonho. Abrir mão do trivial e do supérfluo exige um grau de sacrifício e comprometimento. É claro, caso não queira que seu sonho vá para a gaveta.
Você ficará longe dos amigos, da família e daquilo que você mais gosta para construir uma rotina de disciplina. Por isso, o sonho terá que valer a pena e é por isso que sua visão tem que ser clara e objetiva para você poder suportar o processo.
A última característica é a paciência. Algumas coisas levam tempo e nada adianta ter visão, coragem e disciplina sem paciência. Isso exigirá toda a fibra do seu ser, pois não será a paciência da espera, mas a paciência de quando tudo estiver dando errado, pois vai. Nessa hora, você desenvolverá a resiliência, conceito que até está um pouco ultrapassado, pois após a dificuldade você voltaria ao estado normal e Nassim Taleb traz o conceito “anti-frágil”: após a dificuldade a pessoa pode voltar melhor e, para mim, este é um ótimo conceito de empresário. Anti-frágil.
Em nosso Mato Grosso temos um ótimo exemplo de pessoa anti-frágil. Seu pai morreu antes do seu nascimento, e sua mãe quando ele tinha apenas 2 anos, foi criado pelo tio, fez a formação básica em Cuiabá, entrou no exército e mudou-se para o Rio de Janeiro. Apoiou grandes movimentos no Brasil, a abolição e a independência, e foi designado para ligar o Estado de Mato Grosso e Goiás à capital (até então, no Rio de Janeiro).
Não havia estradas como hoje e essa excursão ao “Brasil profundo” durou 24 anos. Ele acabou ligando, também com telégrafos, o Estado do Amazonas, além do Brasil ao Peru e à Bolívia. Era um grande pacifista e defensor dos povos indígenas. Homem de convicções fortes, se tornou um grande general e o nome do Estado de Rondônia é uma homenagem aos seus feitos. Sim, estou falando de Cândido Mariano da Silva Rondon.
E por que o trouxe para este texto? Bem, hoje estamos em um momento em que as pessoas não querem esperar. Ansiosas e totalmente frágeis, vejo que é preciso resgatar em todos nós essa vertente empreendedora. Rondon ligou Mato Grosso com o mundo. Agora, cabe a nós continuar esse trabalho. O que nos falta? Visão? Coragem? Disciplina? Paciência? Vamos lá, estamos em terras de Rondon, talvez nos falte um pouco do sangue dele. Seja anti-frágil. Temos um ano inteiro pela frente.
*Mário Quirino é especialista em desenvolvimento humano, e Diretor Executivo do BNI Brasil em Mato Grosso.
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