Não é que "quem lê é mais inteligente do quem não lê". Isso é mito. Ou, para usar um termo mais atual, fake news. Afinal, tem gente que lê e escolhe ser antivacina e contra a ciência.
Porém, a literatura consegue nos transportar para mundos desconhecidos, emocionar e, em alguns casos, até mudar nossa vida (com a ressalva de que ela não tem esse papel, mas sim esse poder; são coisas bem diferentes)! Mas, se ela tem esse poder todo, por que ainda tanta gente não a aproveita?
Para ser considerado leitor, não é preciso ler cem livros por ano, descobrir o último lançamento daquele autor do Butão que ninguém conhece nem ter uma edição raríssima do século XVII escrita por outro citado pelo seu escritor favorito em uma nota de rodapé. Para ser leitor, basta... ler. E isso não é tão difícil assim.
Primeiro, dedique um tempinho do seu dia à leitura. Assim como dedicamos a telenovelas; a rolar a tela do celular; a discutir se naquele lance foi ou não impedimento; devemos doar alguns minutinhos para ler uma história que nos agrade. Pode ser sobre dragões, amor, medo, bruxas... O importante é nos identificarmos com o texto!
Nunca me esqueço de uma senhora, em um bate-papo com o escritor João Carrascoza em Fortaleza, querendo que ajudássemos seu neto de dez anos a ler livros "melhores" (aspas bem grandes). Afinal, só queria saber de "Harry Potter e essas besteiras".
Uníssonos, respondemos que o importante era que ele estava lendo. Esse era o gosto dele, que no futuro poderia mudar. Ou não. E tudo bem se continuasse apreciando aquele estilo, porque temos que parar de pensar que literatura boa é só aquela que nós curtimos; existe uma infinidade de gêneros e histórias, cada uma com seu público leitor. E isso se liga ao segundo ponto que considero fundamental: encontrar outros leitores com quem possamos dividir nossas impressões de leitura. Afinal, tomando emprestada a expressão do meu amigo Cupertino Freitas, "ler não precisa ser um ato solitário".
Para isso, penso que a internet tem um papel crucial. Afinal, as redes sociais são as novas fofoqueiras da literatura! É lá que descobrimos os livros que estão fazendo sucesso, acompanhamos os comentários dos "influenciadores" (na falta de um termo melhor) e tomamos parte em grupos virtuais de leitura.
Sabe aquela sensação de ler um livro incrível e não ter com quem comentar? Pois é, os clubes de leitura, presenciais ou virtuais, vieram para acabar com essa solidão! Eles são como uma festa da literatura, onde todo mundo troca ideias e compartilha novos autores e livros em discussões muito enriquecedoras. Isso ajuda a trazer a leitura para mais próximo do nosso dia a dia.
Mas, com tanta gente falando de livros na internet, é importante saber escolher em quem confiar. Para isso, é fundamental pesquisar não só o número de seguidores, curtidas ou a qualidade das postagens, mas o quão similar ao seu é o estilo de literatura que aquele "influenciador" aprecia. É fato que a internet democratiza a literatura e a torna mais acessível, mas precisamos saber filtrar com cuidado aquilo que ela nos oferece.
Saindo do virtual para o real, não podemos nos esquecer da importância das bibliotecas públicas, dos projetos de incentivo à leitura e, principalmente, da escola. Filho de professora, não tenho como deixar de destacar o papel essencial dos mestres! Afinal, é com eles que a gente aprende a ler, a interpretar e a se apaixonar pelos livros.
Então, vamos dar uma chance à leitura?
Natural de Fortaleza (CE), Rafael Caneca é servidor público e escritor, mantém há mais de dez anos o "Pacote de Textos", um perfil voltado à divulgação da literatura de forma descomplicada. Integrante do Coletivo Delirantes. Revisor e preparador de textos. Ah, e apaixonado por rock e futebol!
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