O Brasil é um grande produtor de alimentos, fibras e energia. Somos os maiores exportadores de carne bovina, soja em grão, milho, celulose e açúcar. São mais de 180 destinos que por um motivo ou outro dão a preferência para o produto made in Brazil, mas o fato é que seja pelo grande volume de produção ou pela relação preço x qualidade nos tornamos fundamentais para garantir a segurança alimentar para bilhões de pessoas.
Isso tranquiliza tanto os produtores quanto o governo brasileiro, afinal as exportações geram negócios, que geram divisas, que geram saldo na balança comercial, mas por outro lado tiram o sono de milhares de produtores mundo afora, sobretudo os europeus. Prova disso é que não é de hoje que o Brasil sofre os mais variados tipos de sanções que de uma maneira ou de outra tem um único objetivo, impedir ou reduzir o volume de exportação de determinado produto.
Alguns vão lembrar do caso da disputa entre o Brasil e os Estados Unidos sobre os subsídios domésticos, o que tirava a competitividade do produto verde e amarelo, a briga começou em 2002 só terminou quase uma década depois.
Área tampão, zona livre, anexo “B”, também são expressões que assombraram os criadores brasileiros durante anos. No início o argumento era sanitário, uma linha imaginária foi criada e de um lado o produto tinha acesso à Europa, e de outro não chegava nem perto do velho continente, como se fosse um tratado de Tordesilhas.
Algumas semanas atrás, tivemos em Brasília um evento muito importante sobre a lei de desmatamento da União Europeia. Com um público extremamente qualificado, foram discutidos durante 02 dias os desafios e soluções de rastreabilidade. O tema está em tramitação no parlamento europeu e conta com o apoio de importantes nações como França e Alemanha.
Em 2007 a Europa era o maior importador de carne bovina do Brasil, vendíamos muito, e com bom valor agregado, e aí começaram as barreiras. Em 17 de janeiro de 2008 veio a “Decisão 61”, um ato normativo da Comissão Europeia que atropelou regras que já existiam e criou outras que até hoje existem, e pior, que não têm respaldo na Organização Mundial de Saúde Animal.
A consequência direta dessa norma foi o desabastecimento da proteína nas terras além-mar, e é claro uma grande histeria popular. Para piorar, alguém europeu metido a esperto resolveu batizar um lote de lasanha à bolonhesa com carne de cavalo, o que foi descoberto semanas depois, e até hoje é motivo de revolta entre os povos de lá.
Isso não foi um fato isolado, a falta de matéria prima encareceu os preços dos alimentos processados prejudicando os consumidores e a insegurança fez com que o consumo diminuísse prejudicando também os produtores europeus, ou seja, todos perderam.
Mas afinal, qual a moral da história?
Precisamos cada vez mais conversar com os parceiros comerciais e entender de maneira clara quais são as regras, os prazos, as implicações e lógico quem vai remunerar tudo isso. É preciso tempo e transparência para que todos, ou apenas aqueles que quiserem, se adequem.
Precisamos estruturar uma transição, porque se resolverem virar a chave na marra, pode ser que seja pior que em 2008. Já imaginou se alguém resolver colocar água no chopp?
*Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria.
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