A economia verde está em discussão há décadas, sua implementação é lenta a despeito dos alardes de grupos que atestam a urgência de medidas para resfriar o planeta. O Brasil teve, por diversos momentos, papel relevante nas discussões sobre o desenvolvimento de uma economia sustentável - desde a década de 90, com especial destaque para o Rio 92, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento que foi sediada no país.
Além de sua inegável riqueza ambiental, possuindo diversos biomas ainda preservados e grande biodiversidade, o Brasil goza de uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com extensa participação de energias renováveis, de origem hídrica, fotovoltaica, eólica e o uso crescente de biocombustíveis como etanol, biodiesel e biogás.
Não é de hoje que a posição brasileira gera ruídos no primeiro mundo. Quando se trata de economia verde, o país possui o papel de protagonista principal na geração de energia renovável. Seus méritos não são apenas reconhecidos, como também incentivados. Falar dos crescentes investimentos em energia verde - fotovoltaico, eólico, etanol e mais recentemente no hidrogênio verde - e trazer números, não é privilégio para qualquer país, incluindo entre os desenvolvidos.
Na Europa, em consequência da Guerra Rússia/Ucrânia houve a necessidade de adiar alguns programas, adequar outros, desistir de alguns e estimular novos projetos. Este processo gera oportunidades para todos os negócios de energia, que ainda se soma ao crescimento da indústria verde e de descarbonização.
A transição da matriz energética, particularmente na Europa, fornece um novo cenário para empresas de energia e que possuem estratégias nos negócios de tecnologia limpa. Não faltam investidores atentos às taxas de retorno dos projetos no longo prazo. Nesse cenário, destaca-se uma mudança importante de rumos na Petrobrás, que até bem pouco tempo atrás parecia passar afastada dos novos esforços por fontes de energias renováveis. Uma transição com adequação das fontes energéticas está na agenda da empresa, que ainda analisa o desenvolvimento do mercado para o diesel verde.
O presidente Lula, agora no seu terceiro mandato, parece ter compreendido a relevância da companhia nesse novo ambiente de diversificação das matrizes energéticas dos países desenvolvidos. A atuação do Brasil, não só pode conseguir benefícios na balança comercial, como deve impactar no peso do país como parceiro tecnológico, levando a uma disputa por um segmento oportuno e seguramente rentável no longo prazo, em que China, União Europeia, Índia e Estados Unidos tentarão seus melhores movimentos – com ênfase nos acordos comerciais – em uma disputa acirrada, para conquistar acordos vantajosos.
Em geral, estes movimentos político-comerciais são lentos, não só por conta do tempo necessário para que os investimentos produzam seus efeitos, mas também por conta das incertezas e adequações necessárias, relativas às escolhas sobre decisões entre quais os modais energéticos serão os vencedores nesta disputa – atender a cadeia energética de forma adequada requer estratégias novas de produção e de logística, e que estão em análise.
O Brasil produz etanol há muitas décadas e seria relativamente fácil expandir a exportação deste produto para Europa, China e Estados Unidos, desde que os preços justificassem essa expansão. No entanto, agora é o momento do hidrogênio verde, gás extremamente leve, de alta densidade energética e de difícil transporte, incluindo o marítimo.
Os Estados Unidos estão empenhados no desenvolvimento deste gás altamente energético, lembrando a rapidez e capacidade que os norte-americanos possuem para realizar investimentos vultosos, associando e integrando tecnologia, produtividade e logística quando comparado com aqueles investimentos que parecem estar empenhados no desenvolvimento deste produto em qualquer outro país, como no Brasil. Ainda, no caso do Hidrogênio verde, o atual retorno do investimento, se analisado com as atuais condições de mercado, é inviável. O Brasil não possui consumidores intensivos de hidrogênio verde em sua estrutura de produção.
A produção seria direcionada principalmente para a Europa. A necessidade de energia para a produção de hidrogênio é grande e requer disponibilidade na capacidade de geração. A Europa não possui essa capacidade.
As principais fontes de hidrogênio verde são a eletrólise da água, que pode utilizar energia elétrica fotovoltaica, eólica e até hidroelétricas, assim como o Hidrogênio verde pode ser obtido através do próprio etanol, reformadores a vapor ou catalíticos. Ambas as tecnologias de produção do Hidrogênio são dominadas pelo Brasil, que com isto ensaia uma expansão de grande peso histórico para a economia brasileira nas próximas décadas.
Agostinho Celso Pascalicchio (*) e Sydnei Marssal de Oliveira(*) - Professores da Escola de Engenharia (EE) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).
Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie
A Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) está na 71a posição entre as melhores instituições de ensino da América Latina, segundo a pesquisa Times Higher Education 2021, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação. Comemorando 70 anos, a UPM possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pelo Mackenzie contemplam Graduação, Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, Pós-Graduação Especialização, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.
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