• Cuiabá, 28 de Junho - 00:00:00

No tempo dos sábios...

  • Artigo por Gonçalo Antunes de Barros Neto
  • 19/11/2021
  • 0 Comentários

Ser imortal não é estar associado numa instituição, mas possuir os bens imortais, como as virtudes, destacando-se a sabedoria, o conhecimento, a prudência e a paz de espírito.

Epicuro, que procurava entender o mundo pela via dos sentimentos e da razão, propondo uma existência baseada na felicidade terrena (Carlos Figueiredo, in Discursos Históricos), ensinou que se deve habituar-se a pensar que a morte para nós não é nada, pois o bem e o mal não existem senão como sensações, e a morte é a privação da sensação.

E continua o filósofo grego: não existe nada a temer na vida para quem está convencido de que não há nada a temer em deixar a vida. O mais terrível de todos os males, a morte, não é nada porque, enquanto vivemos, a morte não está presente, e quando a morte está presente nós é que não estamos. E finaliza observando que não é a duração da vida que nos agrada e sim que seja bem vivida.

Contudo, vale ressaltar que vida bem vivida não significa vida sem dor ou obstáculos, pois quando não sofremos não temos necessidade de prazer. E o prazer (o verdadeiro, e não o efêmero e sensual) é atributo da felicidade.

Voltando a imortalidade, mas de determinada existência, Gilberto Gil (resguardadas as polêmicas em que se deu o processo de escolha) a alcançará, talvez e provavelmente, mais pela perenidade de suas canções que pela associação à Academia Brasileira de Letras, apesar da honra para todos em pertencer a seu quadro de membros. Porém, o que nos interessa, aqui, é a imortalidade da alma.    

A imortalidade da alma (e não da lembrança, do nome) foi admitida por Platão e Plotino, tendo sido uma das preocupações centrais de Descartes e Leibniz. Aristóteles a admitiu de forma parcial, fazendo distinção entre o intelecto ativo (imortal) e passivo (mortal).

A mais interessante teoria sobre a imortalidade da alma foi de Santo Anselmo, que justamente pelo seu pensamento e produção intelectual, foi imortalizado (agora do nome, da lembrança) na sua existência. Afirmou ele que não estaria de acordo com a suprema bondade, sabedoria e onipotência do Criador reduzir a nada uma criatura por ele criada para amá-lo, enquanto ela o amar (Abbagnano). 

Santo Anselmo utiliza-se da lógica, pois, como fazer morrer a algo que foi criado para amar enquanto amar? Impossível.

Também, poderia invocar nesse aspecto a afirmação científica de que o que vem da perfeição, perfeito deve ser. A objeção aqui está no fato de que o Ser criado é distinto do Ser gerado, como o foi Jesus Cristo, que possui os mesmos atributos do Pai. Na criação (o não no que é gerado), portanto, poderá haver imperfeição, ou melhor, dessemelhança com o Criador.

E o que tem a ver Epicuro e imortalidade? A felicidade. A felicidade está na presença dos valores imortais. Quem carrega consigo a virtude é imortal e feliz. Imortal por reter atributos imortais e feliz pelo prazer, sensação de senti-los na existência.

Então, não é qualquer um que chega à imortalidade (de existência, de nome), ainda que assim queiram as convenções sociais e culturais; apesar de que todos somos imortais de alma. Ainda, é forçoso reconhecer que a felicidade é somente para os virtuosos, os sábios.

Um dia se dará mais vida à essas apreensões reflexivas. A humanidade caminha para a verdade, apesar da mentira. Nesse tempo, os melhores serão chamados do último banco para a mesa de honra.

É por aí...

Gonçalo Antunes de Barros Neto é magistrado e professor de Filosofia da ESMAGIS/MT (email: bedelho.filosofico@gmail.com).                   



0 Comentários



    Ainda não há comentários.