Nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, assim como se observou na recente Olimpíada realizada na capital japonesa, destacam-se países cuja educação é forte, acessível e de excelência. Não é coincidência que alguns deles, além de ganharem muitas medalhas nessas competições, sejam desenvolvidos, tenham alto patamar de renda per capita, economias muito competitivas e ocupem posições de destaque no contexto global. O Brasil tem avançado na conquista de lugares nos pódios, muitas vezes resultantes até mesmo do esforço de superação e mobilização dos próprios atletas, mas ainda estamos muito distantes no que diz respeito ao ensino.
Algumas nações fazem do esporte um meio de democratização da escolaridade, com a concessão de numerosas bolsas de estudo aos atletas. Isso é importante, sem dúvida. Porém, no caso brasileiro, a prioridade é propiciar, por meio de políticas públicas eficazes, acesso universal a uma rede pública de excelência em todas as etapas, da Educação Infantil à universidade, passando pelo Fundamental, o Médio e o Técnico.
Infelizmente, seguimos defasados nessa área tão decisiva. Antes da pandemia, 8,8% dos nossos jovens de 15 a 17 anos estavam fora da escola. A taxa de abandono no Ensino Médio da rede pública era de 6,7%, sendo de 14,3% no turno da noite, refletindo ser mais acentuado o problema para os que trabalham (fonte: Observatório da Educação).
Quatro por cento dos alunos do quinto ano estavam no nível insuficiente em língua portuguesa; 3.269 municípios tinham menos de 20% dos estudantes com aprendizado adequado em matemática no nono ano; 29% dos matriculados no Ensino Médio estavam em distorção idade-série; 4,6, numa escala de zero a 10, era o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) da rede pública nos anos finais do Fundamental (fonte: Censo Escolar).
Se todos esses indicadores já eram suficientemente preocupantes, cabe atenção ao alerta de um relatório global da Organização Internacional do Trabalho (OIT): o impacto desproporcional da Covid-19 sobre os jovens aumentou a desigualdade e pode prejudicar o potencial produtivo de uma geração inteira. Desde o início da pandemia, mais de 70% dos que estudam ou combinam a escola com o trabalho foram adversamente afetados pelo fechamento dos estabelecimentos de ensino. A situação é mais grave para os que vivem em países de baixa renda, onde há grandes lacunas no acesso à internet para aulas virtuais e na disponibilidade de equipamentos e, às vezes, até de espaço em casa.
Fica muito claro que o Brasil necessita, com urgência, melhorar muito sua estrutura educacional. Tal prioridade é mais enfática no contexto do boom tecnológico acelerado pela pandemia. A boa formação escolar e acadêmica, sempre importante, torna-se agora indispensável à empregabilidade e, portanto, à promoção da distribuição de renda e justiça social. Nossa única opção é vencer o desafio de qualificar e universalizar o sistema público. Caso contrário, independentemente do número de medalhas que conquistarmos em olimpíadas e paralimpíadas, continuaremos fora do pódio das nações vencedoras na economia global.
João Francisco Salomão é empresário.
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