Políticos se movimentam. Ainda que sem rumo, mas se movimentam. Vão de um lado para outro. Conversam, fazem conjecturas, confabulam e fazem planos. Planos pessoais, grupais, sempre voltados para as eleições de 2022. Eleições que são, como todas as anteriores e as futuras, elixir, causadoras de suas motivações. Motivam-se por causa dos cargos em disputas. Em razão dessas disputas, há até casamentos.
Casam-se, ainda que venham a se descasar, e descasam com os olhos vidrados em outro consórcio, mesmo que sejam incompatíveis. Casamentos com comunhão universal de bens. Ainda que haja quem discorde dele, quem se recusa a assinar o termo do casório. Isto pouco, ou quase nada importa. Importante mesmo é o tamanho do dote. O dote faz com que os nubentes se mostram muito apaixonados, nascidos um para o outro. Inseparáveis, embora ocorram traições. Traições consentidas. Ou, há casos, talvez mais frequentes, em que também podem ocorrer que o passado para trás não venha a se incomodar em ser traído. O feito, neste caso, torna-se não feito.
Assim, continuam de mãos dadas, alinhados. Prevalece, então, o amor. Amor incondicional. Como prova de amor um pelo outro, os dois deixam de ser o que eram para ser um só, um único corpo. Foi o que se viu na formação da União Brasil. Assim que o TSE consagrar a tal fusão, o PSL e o DEM desaparecem de vez. Embora, lá na frente, os descontentes de ambos possam a vir ressuscitar uma das siglas, ou as duas.
O jogo político-partidário é assim mesmo. O improvável acontece, assim como também se registra o incompatível. A consanguinidade pouco, ou coisa alguma pesa nas alianças, nas filiações. Filiados de direita podem estar nas fileiras de esquerda, e os de esquerda podem se fizer presentes nas da direita. Direita e esquerda são termos que não influenciam quase nada no ato da filiação. Filia-se com vistas às oportunidades, aos espaços possibilitados. Interesse particular ou grupal sobrepõe-se. Sobrepõe-se tanto que até o momento, um pouco menos de um ano das eleições do ano vindouro, só se fala em nomes, jamais em programas ou projetos de governo, ainda que a inflação esteja em disparada, sem freios, e os preços sobem desmedidamente. “Tudo está aos olhos da cara”, como dizem.
Nada, nadinha de nada se vê ou se lê a respeito de um plano de ações para estimular a economia, a saúde financeira do país. Muito embora haja, e há mesmo unidade da federação bem das pernas, com dinheiro em caixa. Mas a imensa maioria da sua população continua pobre, paupérrima, sem seus direitos básicos, a exemplo da saúde. Inclusive desamparada de política pública.
No lugar das políticas públicas, existem assistencialismos, com sacolão de alimentos daqui e dali, cobertor para um e para outro. Entregas que se dão de forma barulhenta, com toda a pompa, para que fiquem registrados na memória e no inconsciente coletivo, afinal, os doadores são gentes que gostam de gentes. Têm bons corações. Repartiram com quem precisam. No dia de votar, a fatura chega supervalorizada: votos no bornal de quem lhes deram migalhas. Migalhas necessárias e importantes para os momentos de desespero.
Migalhas que poderiam ser substituídas por políticas públicas. Mas estas há muito, estão fora de cogitação. Talvez, quem sabe, por não aceitarem a personalização, nem a pessoalização. O que é bastante grave, uma vez que a dita situação perdura, e, ao perdurar-se, afasta de vez o combate da desigualdade social, que tende a se agravar com milhões e milhões de pessoas presas abaixo da linha da pobreza, e outras tantas encalacrados no endividamento impagável pelo não crescimento do emprego e pela ausência de uma política econômica no país, com os políticos e partidos preocupados tão somente com os cargos em disputas. É isto.
Lourembergue Alves é professor universitário e analista político.
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