• Cuiabá, 25 de Junho - 00:00:00

“Sapientes”

  • Artigo por Gonçalo Antunes de Barros Neto
  • 22/06/2021
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O que seria efeito Dunning-Kruger ? Segundo seus criadores, existem pessoas que não sabem, mas pensam que sabem. E o que é pior, pensam que sabem mais que os outros, mais até que os especialistas em determinado assunto. Levam isso tão a sério que elegem a si próprias como ideais cognitivistas.

Esses “seres iluminados” não dão opinião, mas fazem das ideias (cognitivamente duvidosas), imposição. São teimosos a duvidar de qualquer capacidade intelectual dos outros; a alteridade lhes é tomada por ignorante.

Na página Pensar Contemporâneo, está informada a origem do termo Dunning-Kruger: “Em 1995, McArthur Wheeler assaltou dois bancos consecutivos no mesmo dia na cidade de Pittsburg, na Pensilvânia, Estados Unidos. Detalhe: ele não usou nenhuma máscara para esconder seu rosto. Flagrado pelas câmeras, ele foi obviamente reconhecido e facilmente capturado. Ao ser preso, estava profundamente desolado. Ele havia passado suco de limão no rosto e acreditava que, com isso, teria ficado totalmente invisível”.

E continua - “Uns amigos seus o haviam ‘ensinado’ o truque e ele tinha verificado: aplicou suco de limão no rosto e logo tirou uma fotografia sua. Ele pôde comprovar que a sua imagem não saia nela. No entanto, o mesmo limão o tinha impedido de ver que ele não tinha focado o seu rosto, mas sim o teto. “Como alguém pode ser tão idiota?”, perguntou-se David Dunning” -. Dunning era professor de psicologia social da  Universidade de Cornell, que se perguntou se a incompetência pode nos fazer desconhecer o quanto somos incompetentes (???), iniciando uma série de experimentos com seu colega Justin Kruger,  dando origem ao efeito Dunning-Kruger.

Avaliaram algumas pessoas, notadamente no campo da gramática, raciocínio lógico e humor, pedindo antes que elas referenciassem o próprio nível de competência. Perceberam, então, que quanto mais incompetente era uma pessoa, menos consciente disso ela era. Enquanto as pessoas mais competentes se subestimavam.

Será que existe um sofisma inconsciente a engendrar autoconfiança cognitiva em “aforismos” desenvolvidos conscientemente por idiotas? Muitos querem saber e se levam a pensar que sabem; também, sem qualquer descuido, engano, pensam resolutamente que são éticos.

Talvez uma cura? Quem sabe? E se lessem Wittgenstein, acalmar-se-iam no ímpeto cognitivo exagerado? Quem sabe este pensador vienense pudesse dizer-lhes: “O que se pode em geral dizer, pode-se dizer claramente; e sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar” (Tractatus). Assim, dizer o que não pode ser dito desembocará, sempre, num contrassenso.

Quem não tem “linguagem” (simbologia) adequada a determinando conhecimento, dele não se apropriou, razão pela qual não sabe. Isso é base em qualquer pensamento analítico.  

Por que, então, quem menos sabe o afirma saber de forma um tanto quanto resoluta? Porque a miséria intelectual igualmente mata de fome; fome de não ter limites. Há um momento para saciá-los: a maior (e o adjetivo lhes encherá de grandeza e júbilo) indiferença.

Em tempo, por onde anda aquele grego que afirmava que sabia que nada sabia? Não vive mais? Vive muito bem nas obras de Platão, outro que também se subestimava, igual aos verdadeiramente competentes da pesquisa dos professores da universidade novaiorquina. 

É por aí...

 

Gonçalo Antunes de Barros Neto tem formação em Filosofia e Direito (bedelho.filosofico@gmail.com).



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