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Mário Quintana: A Magia do Cotidiano

  • Artigo por Gonçalo Antunes de Barros Neto 
  • 01/07/2024
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            Mário Quintana, nascido em Alegrete, Rio Grande do Sul, em 30 de julho de 1906, é um dos maiores nomes da poesia brasileira do século XX. Sua obra, marcada por uma aparente simplicidade, revela uma profundidade de sentimentos e uma compreensão aguda da condição humana. Quintana tem o dom de transformar o cotidiano em algo mágico, revelando a beleza e a tristeza presentes nos momentos mais comuns da vida.

            Quintana iniciou sua carreira literária cedo, publicando seus primeiros poemas na adolescência. Trabalhou como jornalista e tradutor, e sua primeira obra publicada, "A Rua dos Cataventos" (1940), já mostrava o estilo que marcaria toda a sua produção: versos simples, mas carregados de significado, e uma linguagem direta e acessível.

            Ao longo de sua carreira, Quintana publicou diversas obras, incluindo "Canções" (1946), "O Aprendiz de Feiticeiro" (1950), "Espelho Mágico" (1951), "Pé de Pilão" (1968) e "Apontamentos de História Sobrenatural" (1976). Em todas essas obras, a temática do cotidiano e a reflexão sobre a vida e a morte são constantes.

            Uma das características mais marcantes da poesia de Mário Quintana é a simplicidade aparente de seus versos. Ele utiliza uma linguagem direta e clara, evitando floreio e complicações desnecessárias. No entanto, essa simplicidade é enganosa, pois seus poemas escondem uma profundidade e uma sabedoria que só se revelam a um olhar mais atento.

            Quintana tinha a habilidade de captar momentos efêmeros e transformá-los em algo eterno. Seus poemas falam de amor, de saudade, de infância, de morte, mas sempre de uma maneira que parece, ao mesmo tempo, acessível e profunda. Conseguia, com poucas palavras, transmitir emoções complexas e reflexões filosóficas.

            A infância é um tema recorrente na obra de Quintana. Frequentemente rememora sua própria infância em Alegrete, com suas ruas tranquilas e seus momentos de simplicidade. A nostalgia por esse tempo perdido permeia muitos de seus poemas, mas não de uma maneira melancólica. Pelo contrário, ele celebra a infância como um tempo de pureza e de descoberta, que continua a influenciar a vida adulta.

            Em "Canção de Ninar do Joãozinho", por exemplo, Quintana fala com ternura do sono infantil e da segurança que proporciona, contrastando com as inseguranças e medos da vida adulta. A nostalgia aqui não é uma lamentação pelo que se perdeu, mas uma celebração do que ainda vive na memória.

            O amor, em suas diversas formas, é outro tema central na obra de Quintana, assim como a solidão. Escreve sobre o amor romântico, o amor pela família e pelos amigos. Em seus poemas, o amor é sempre tratado com delicadeza e uma certa dose de ironia. Da solidão, Quintana, que viveu grande parte da vida sozinho, reflete sobre ela como uma condição inerente à existência humana. Em "O Auto-Retrato", descreve-se como "o poeta da saudade", revelando um profundo senso de isolamento e introspecção.

            A morte talvez seja o tema mais profundo e recorrente na sua poesia. Aborda a morte não com temor, mas com uma aceitação tranquila e uma curiosidade filosófica. Em "Bilhete", um de seus poemas mais famosos, Quintana fala da morte com uma simplicidade tocante: "Se me amas, não chores! / Se conhecesses o mistério insondável do céu onde me encontro... / Se me visses por um instante com os olhos da fé, / não chorarias por mim".

            Para Mário Quintana, a poesia era um refúgio, um modo de compreender e enfrentar a vida. Via a poesia como uma forma de resistência contra a dureza do mundo, uma maneira de encontrar beleza e sentido nas coisas simples. Seus poemas são um convite para que o leitor veja o mundo com novos olhos, para encontrar poesia no cotidiano e se deixe encantar pelo mistério da vida.

É por aí...

 

Gonçalo Antunes de Barros Neto tem formação em Filosofia, Sociologia e Direito.



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