Quando vejo a enorme paranoia que se estabeleceu no Brasil em relação ao meio ambiente, vejo-me na obrigação de relatar alguns fatos sobre o assunto.
O primeiro vem a partir de uma entrevista que fiz com a secretária do Meio Ambiente de Mato Grosso, Mauren Lazzareti no correr da última semana. Concordei com ela em muitos pontos. Mas destaco um. Ela afirmou que os atuais incêndios na Amazônia e nas reservas indígenas tem muitas origens. De um lado é por cultura usada nas caças anuais. A outra é por pura pobreza. Isso os leva a vender madeiras, minerais como ouro e diamantes. A solução, diz ela, seriam políticas públicas que apoiem não só os índios como os chamados povos da floresta que vivem na região amazônica. Grande parte kive da coleta, da caça e da pesca quase como indigentes.
Nesses últimos anos foram usados como massa de manobra para discursos políticos de uma suposta proteção oficial. No entanto, acabam nas mãos de aproveitadores públicos, privados e de ONGs nacionais e estrangeiras ligadas a um falso assistencialismo que na verdade esconde piratarias de ouro, de madeira, de diamantes e de espécies vegetais pra uso medicinal. Na maioria dos casos as ONGs se escondem atrás da fachada de igrejas. Políticas públicas realistas voltadas para índios e para os demais povos da floresta seriam uma chance de efetivamente incluí-los numa vida econômica decente e realista.
Aqui quero contar uma experiência que vivenciei pessoalmente por volta de 2005. Assisti à festa anual do Quarup dos índios no Parque Nacional do Xingu. É uma homenagem das tribos xiguanas aos mortos daquele ano. Reúnem-se numa aldeia das várias etnias e realizam a festa durante alguns dias. Cheguei dois dias antes. Impressionou-me a presença de grande número de estrangeiros na aldeia dos índios Kalapalos onde o Quarup foi realizado naquele ano. Tinha canadenses, norteamericanos, europeus. Mas os espanhóis eram em maior número.
Perguntei a um dos muitos caciques o que faziam ali tantos espanhóis. Contou-me que eram membros de ONGs religiosas. “Estudavam” plantas. Reconheci uma planta chamada de “cinco folhas”, muito comum nos cerrados. Sou muito dado ao estudo de plantas e de madeiras. O cacique confirmou o nome da planta e disse que ela é usada ancestralmente por eles pra curar problemas ligados ao estômago e ao fígado. Os espanhóis estudavam os efeitos e levavam pra Espanha amostras pra retirar os princípios ativos da planta pra uso na fabricação de remédios. Tudo de graça. Ou melhor. Em troca de pequenos favores aos índios. Os laboratórios economizam milhões de dólares em pesquisas uma vez conhecendo consagrado o uso das plantas.
Os índios aceitam as ONGs porque lhes faltam medicamentos, assistência médica e até comida. As aldeias aumentaram muito a partir da década de 1990, depois de um período longo de recessão populacional.
Porém, essa assistência pública é mal administrada, corrompida e serve em muitos casos pra usos políticos e ideológicos. São setores muito aparelhados e com forte ligação com as ONGs estrangeiras.
A conclusão é a de que os índios e os povos da floresta em grande parte desejam a autonomia que lhes dê a dignidade. Pode ser por meio de políticas ou da permissão pra que experimentem a economia, como os parecis no médio norte de Mato Grosso em Campo Novos dos Parecis. Ah. Para o desespero dos órgãos públicos, das igrejas e das ONGs que vivem à sombra e aproveitam os milhões dólares “destinados” à proteção dos índios. O Ibama persegue ferozmente os parecis....!
Voltarei ao assunto.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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