Para conhecer algo em profundidade é preciso estar presente, conhecer o dia a dia dos que naquele lugar vivem, o peso de cada conquista e de cada perda. Na divisa entre os estados de Rondônia e Amazonas existe uma região onde o desenvolvimento econômico insiste em se instalar para tentar melhorar a vida das pessoas.
Saindo de Porto Velho, capital de Rondônia, pela BR-230, encontra-se um dos principais municípios do Arco Norte Amazônico, Humaitá. Com pouco mais de 50 mil habitantes, a cidade é uma referência na região, abrigando importante terminal de uma das principais vias de transporte, a hidrovia do Rio Madeira. As águas que um dia levaram a borracha da Amazônia, hoje carregam os grãos produzidos centro-norte do país.
Mais 180 quilômetros pela Transamazônica, numa região também conhecida como 180, chegamos ao distrito de Santo Antônio do Matupi, que possui grande aptidão agropecuária e importante bacia leiteira da região, que movimenta a economia local.
A grandeza de quem conquistou um espaço ali está justamente em reconhecer o quão difícil foi a jornada.
O paradoxo entre o potencial produtivo e a efetiva produção é nutrido pela escassez de investimentos que dificultam o desenvolvimento econômico e social da região. As atividades agropecuárias são realizadas na unha, como se dizia antigamente, e o sustento das famílias fica comprometido porque não existe assistência técnica, logística eficiente, acesso a crédito, entre tantos outros recursos indispensáveis para que as pessoas possam trabalhar.
Isolar a região amazônica em busca de preservação supralegal é dar as costas para uma parte da população que também busca pertencimento, integrar o mundo. As pessoas que vivem nesta parte do país querem autonomia para trabalhar e ter qualidade de vida. Impor uma condição sem ouvir o que elas querem, sem reconhecer a sua existência e legitimar sua vivência é abrir espaço para a ilegalidade.
É admirável ver a luta diária dos trabalhadores da região amazônica, que em sua maioria busca produzir em harmonia com o meio ambiente, respeitando a floresta para que possa garantir o provento por mais tempo.
A legislação brasileira é extremamente rigorosa com relação à conservação ambiental, mas a sociedade é omissa ao não garantir meios para que a mesma seja cumprida. Falo sociedade porque defendo o compartilhamento de responsabilidades entre o público e o privado. É preciso unir esforços para viabilizar o desenvolvimento sustentável na Amazônia, garantindo a produção, preservação, renda e dignidade.
Vamos olhar para dentro do nosso país com respeito e profundidade, buscando ouvir as pessoas, identificar os potenciais e estabelecer os limites sustentáveis, do meio ambiente e da economia.
Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria.
Ainda não há comentários.