Mais um 8 de Março.
Já são 164 anos de luta por direitos das mulheres e ainda temos que lutar por igualdade. E isso parece desolador quando encaramos a realidade que enfrentamos no dia a dia. Estamos longe de alcançar metas que foram estabelecidas em escala global como a paridade de gênero, de salários, de vida com dignidade para todas e todos.
Para se ter um parâmetro, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu em 2015 os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável até 2030. Dentre essas metas acordadas entre 193 países, a de nº 5 dispõe: alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.
A meta é ousada, mas o percurso da humanidade parece não ter evoluído muito para alcançar esses objetivos. Basta visualizar um breve panorama em alguns indicadores, que chegaremos a uma conclusão pouco esperançosa.
De acordo com o Banco Mundial, no ritmo em que estamos ainda vamos levar 150 anos para conseguir atingir a paridade de gênero em salários. Dados do Censo de 2010 apontam, por exemplo, que os homens brasileiros possuíam rendimento médio mensal de R$ 1.547, enquanto que as mulheres em igual condição recebiam R$ 473 menos, sendo uma média de R$ 1.074.
A igualdade ainda também é uma utopia em relação à educação. Dados da Unesco apontam que no mundo, as meninas têm duas vezes menos chances de ingressar em uma escola, do que os meninos.
As mulheres ainda são subjugadas em relação aos seus direitos de liberdade, dignidade e a uma vida feliz. Segundo a Plataforma Violência Contra as Mulheres em Dados, 97% das mulheres brasileiras que dependem do transporte público relatam que já foram vítimas de assédio em meios de transporte.
A violência também foi um dos terrores enfrentados pelas mulheres em 2020 e é uma decepcionante realidade em 2021. No ano passado, a cada 5 minutos uma mulher ligou para o 180 para denunciar violência doméstica.
Há ainda a violência no local de trabalho. A Plataforma estima que 76% das mulheres brasileiras já passaram por episódio de violência e assédio no ambiente funcional, sendo que 40% das mulheres foram supervisionadas excessivamente ou xingadas e constrangidas enquanto defendiam seu sustento.
Mas o que está faltando para essa realidade ser diferente? Este é um questionamento que cabe muitas respostas, mas a meu ver, uma forma de mudar toda essa realidade é com mais participação feminina na política.
No Brasil, dados compilados pelo IBGE com base em informações do Tribunal Superior Eleitoral, a média de candidaturas femininas nas eleições é de 11%, mesmo as mulheres sendo mais da metade entre os eleitores e da população.
Participação da mulher na política, na economia, na educação, no Poder Público é uma questão de urgência. Homens, por mais empáticos que alguns possam ser, nunca conseguirão pensar, falar e decidir pelas mulheres. Somente nós sabemos quais são nossas verdadeiras necessidades.
Somente a mulher violentada, abusada, humilhada e reprimida sabe sua dor e a dificuldade que é denunciar, colocar-se no mercado de trabalho e romper com uma cultura de opressão.
A chave para abrirmos a porta da mudança desta realidade é: participação. Quando mulheres se unem para debater ideias e pensar estratégias de transformação da realidade, reúnem em si forças essenciais para alcançar resultados que precisamos perseguir para conseguir viver em um mundo com igualdade.
Que este 8 de março de 2021, não seja mais uma data sazonal, possa sim marcar uma nova era de engajamento feminino, com objetivos claros por liberdade e igualdade, sem as amarras da violência, do ódio e da indiferença.
Continuemos a luta, mulheres! Por nós, em agradecimento às que vieram antes de nós, e pelas mulheres que virão depois de nós.
Glaucia Amaral é procuradora do Estado e Presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de Mato Grosso (CEDM-MT).
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