A importância da luta das mulheres nas últimas décadas é inegável e, cada dia mais, são somadas conquistas contra todas as formas de dominação e discriminação de gênero.
Não nos deixemos impressionar, pois a luta é árdua e está longe do fim!
Um estudo apresentado no Fórum Econômico Mundial, em 2019, retrata que ainda levará praticamente um século para que conquistemos a efetiva paridade de gênero no mundo, e, no mercado de trabalho, se mantido o ritmo atual, a perspectiva é que a igualdade entre os sexos somente seja alcançada daqui a 202 anos.
Apesar de representarmos 52% da população brasileira, nossa representação nos cargos políticos equivale a 15%.
Pouquíssimas mulheres ocupam posições de liderança, apenas 4,5% dos diretores de board de empresas brasileiras são mulheres – a média em países emergentes é de 7,2% -, fora o fato de as mulheres dedicarem 20,3 horas semanais na jornada doméstica, enquanto os homens gastam apenas 10 horas – fator preponderante na trajetória da mulher como profissional.
Então, mulheres, agora, mais do que nunca, precisamos estar juntas, e precisamos de mais mulheres e homens ao nosso lado, conscientes de que só a resistência organizada, na qual nos apoiamos e reivindicamos direitos iguais, nos levará a uma sociedade justa e solidária.
O ordenamento jurídico, as leis, as normas, não são suficientes para promover a almejada igualdade. É preciso que avancemos em conquistas, nos tornando capazes de romper com a aparente competição entre os sexos.
Temos que nos conclamar FEMINISTAS, pessoas que buscam, ativamente, desfazer a hierarquização entre os sexos e o regime patriarcal, reivindicando, por sua vez, em todos os campos, social, político e econômico, a igualdade de direito entre homens e mulheres.
Devemos, assim, enxergar o Dia Internacional da Mulher como um momento que transcenda o presente, nos inspirando a vislumbrar na mulher do cotidiano, nossas avós, mães, irmãs, tias, amigas, professoras, colegas de trabalho, a força propulsora que nos impele a jamais consentir com qualquer forma de dominação e sujeição.
É importante romper com as formas sutis pelas quais se observa o machismo estrutural e o preconceito velado contra a mulher nos ambientes de trabalho.
As raízes desse machismo dissimulado estão por todos os lados, profundamente impregnadas em nossa cultura, internalizadas em nossa psique.
É ele que nos faz, por exemplo, acreditar na existência de atividades mais apropriadas às mulheres, geralmente relacionadas ao Bem Estar e cuidados com as pessoas, e outras essencialmente masculinas, como às da matemática, tecnologia, ciências, política, e que acabam por definir a nossa trajetória.
É importante desfazer esse conceito de masculino e feminino iniciado na infância, que nos reserva um papel determinado, colocando a mulher em condição de fragilidade e o homem como potencialmente elevado, impedindo que meninos e meninas desenvolvam suas habilidades livremente.
Temos que abandonar a visão tradicional da liderança calcada meramente no gênero, atribuindo ao homem o perfil de líder natural. A questão depende, fundamentalmente, da pessoa, que deve reunir características como caráter, determinação, autoconfiança, comunicação, essencialmente comuns aos dois gêneros.
Não normalizemos o fato de as mulheres, apesar de ocuparem 60% das cadeiras das universidades e serem mais qualificadas, não terem o mesmo desempenho nos cargos de liderança.
Passemos a nos estarrecer com o fato de que, quanto mais perto do topo, menos mulheres encontramos.
Abandonemos o discurso de que são as diferenças físicas que criam um abismo entre nós. Essa multiplicidade só deve ser utilizada para nos complementar, nos enriquecer, jamais para nos diminuir e nos enfraquecer.
Há estudos que apontam que as mulheres, devido aos inúmeros papéis que ocupam (trabalhadoras, mães, donas de casa), conseguem vislumbrar o todo e são mais efetivas para motivar, engajar e desenvolver seus colaboradores.
Talvez isso explique o fato de que, segundo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da ONU, realizado em 70 países, ter mulheres em cargos de liderança contribui para maior desempenho e lucratividade nas empresas em geral, o que possibilita um aumento nos lucros entre 5% a 20%.
Longe de querer provar que são melhores que os homens, às mulheres devem ser asseguradas as mesmas oportunidades a fim de que seja possível que suas características essenciais sejam elevadas como ferramenta de crescimento das organizações.
Cabe, assim, aos gestores, promover uma diversidade organizacional que trabalhe a igualdade entre homens e mulheres, garantindo a todos, independentemente do gênero, as mesmas oportunidades de desenvolvimento e crescimento, estabelecendo uma política implacável contra abusos e assédio sexual.
Sejamos conscientes sobre a importância de valorizar e empoderar as mulheres. Esse é o único caminho para alcançarmos a equidade entre as pessoas e uma sociedade voltada à plena realização de seus integrantes.
Lílian Paula Alves é procuradora do município de Cuiabá e diretora-secretária da União dos Procuradores do Município de Cuiabá (Uniproc). Contato: uniproc.cuiaba@gmail.com
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