• Cuiabá, 07 de Julho - 00:00:00

Acorda Cuiabá

            Não acredito que seja construída, ao mesmo tempo, a ferrovia Ferrogrão, entre Sinop e Miritituba, e a extensão da ferrovia Rumo Logística, que está em Rondonópolis, até Sorriso.

            O ideal seria sair as duas, uma levando e trazendo cargas para Santos, a outra para o sul do Pará. O produtor rural teria opção do menor frete. Estabelecida a competição entre as duas, o consumidor ganharia também.

            Mas, no Brasil real, alguém acredita que duas ferrovias iriam se digladiar para oferecer frete menor? A tradição é o quase monopólio e o controle do frete. O nosso capitalismo é diferente de outros.

            Se não sair as duas, qual sairia? Se sair a Ferrogrão, Cuiabá e região estarão excluídas desse tipo de transporte. Isolado entre a ferrovia até Rondonópolis e a de Sinop para cima.

            Se isso acontecer, a Baixada Cuiabana, já com problemas de crescimento econômico, vai estagnar mais ainda. Continuaria como centro de prestação de serviços, a agroindústria ficaria no Norte e no Sul ao longo das ferrovias. Também ao longo da ferrovia Campinorte-Água Boa, no Araguaia. Aqui num modorrento caminho para a estagnação.

            Para Cuiabá e região metropolitana seria útil que a ferrovia descesse a serra, vindo de Rondonópolis. Com a chegada do gás boliviano direto para a indústria, que deve vir de forma firme e constante, mais a ferrovia, aqui seria outro polo da agroindústria. Impulso enorme ao crescimento econômico.

            A Baixada tem um trunfo nesse assunto das ferrovias: carga de retorno. Hoje a Rumo Logística pode trazer até 20 milhões de toneladas de bens para suprir basicamente esta região. Qual seria a carga de retorno da Ferrogrão? Bens de consumo e industrializados de onde? Ou seria mais fertilizantes e pesticidas? Produtos que a outra poderia transportar também.

            A Ferrogrão não poderia repetir o que ocorreu com as ferrovias paulistas? Só transportavam café para Santos. Morreram. Soja e milho não serão cargas eternas, como não foi o café em São Paulo.

            Ninguém pode ser contra a construção da Ferrogrão, o que se argui aqui é que, para o futuro do Vale do Rio Cuiabá, uma ferrovia ajudaria bastante. Quem sabe até poderia ser uma extensão da própria Ferrogrão na busca de carga de retorno.

            Ferrogrão e a Rumo estão com pedidos na Antt e no TCU para suas concessões. A Rumo quer extensão da concessão por mais 30 anos do trecho da malha paulista. Se conseguir poderia transportar até 75 milhões de toneladas (hoje é cerca de 35 milhões).

              Para ter aquela carga teria que buscar carga além de Rondonópolis. Daí acreditar que iria até Sorriso e região. Se ocorresse, Cuiabá e área não seriam isoladas outra vez, como ocorreu no passado com a ferrovia chegando a Campo Grande.

            Será que o governo federal daria a concessão à Ferrogrão e não à extensão da Rumo para cá?  O trabalho político da região deve olhar este fundamental aspecto do momento.

            Mas quem sabe o articulista esteja equivocado e as duas ferrovias saem ao mesmo tempo. Sonhar não custa nada. 

 

Alfredo da Mota Menezes é Analista Político 

E-mail: pox@terra.com.br    

Site: www.alfredomenezes.com



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