• Cuiabá, 20 de Julho - 2025 00:00:00

O grito de quem não tem voz

Em primeiro lugar, não votei em Bolsonaro nem em primeiro e nem em segundo turno. Este texto não trata dele.

Para quem não sabe (e se não sabe nunca foi porque escondi), sou filho de pais surdos, o saudoso Gilberto e a amada Heloísa. Ao longo dos meus 36 anos vi muitas vezes eles serem desprezados, subestimados, marginalizados nos mais diversos ambientes por causa da surdez. Isso sempre me machucou profundamente, porque sei o quão honrados e dignos eles são.

Mesmo com todas as dificuldades, meu pai se tornou artista plástico, viveu da sua arte, foi reconhecido e conseguiu criar seus filhos. Nunca o vi reclamar da forma como foi tratado em vários momentos e passou sua vida tentando se inserir nesta nossa sociedade.

Claro, neste caminho houve muita gente que o abraçou, que nunca colocou a surdez como obstáculo, pessoas que amo e admiro. Do mesmo modo, minha mãe dedicou sua vida a apoiar meu pai e formar seus filhos, tudo feito com muito sucesso.

Então, sinto-me esperançoso em ver a nova primeira-dama, Michelle Bolsonaro, quebrar o protocolo e, em libras, prometer olhar para aqueles que sempre foram deixados de lado. É algo tão importante e tão sonhado que a própria intérprete se emocionou ao falar deste assunto.

Que ela consiga cumprir este compromisso, que nossa sociedade seja mais aberta e mais disposta em abraçar os "diferentes" e que esta quebra de protocolo signifique de fato uma mudança.

 

Gláucio Nogueira é jornalista



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