Os norte-americanos sempre falaram e escreveram sobre acontecimentos bizarros da politica na América Latina. Mas ali hoje estão acontecendo fatos que mostram uma proximidade com o que ocorria e ocorre na região abaixo do Rio Grande. Volta-se ao assunto porque o momento nos EUA chama a atenção.
Os Republicanos dizem que se, os Democratas chegam ao poder, poderiam levar os EUA para o socialismo. Tentam amedrontar o eleitorado de cidades menores e zona rural de que o mundo pode virar de cabeça para baixo se os Democratas ganharem a eleição. E, por seu lado, os Democratas falam em escuridão politica e ameaça a democracia com Trump no poder. Difícil lembrar outra eleição em que se mostra com tal ênfase que os valores democráticos podem desmoronar.
Donald Trump fala em fraude eleitoral em voto pelo correio e já até insinuou que pode não aceitar resultados da eleição. Nunca se ouviu antes ali em não aceitar resultado eleitoral. Trump sabe que muitos jovens podem usar esse meio para votar e ele tem menos votos nesse segmento. Daí querer desmoralizar esse tipo de votação.
O chefe dos Correios, indicado por Trump, falou que os correios nãos seriam tão eficientes numa votação em massa na eleição. O partido Democrata, sabendo que por aí pode se dar bem, votou na Câmara uma injeção de 25 bilhões de dólares para os Correios com a intenção de matar essa versão dos Republicanos.
Se pensava que a eleição de Trump fora basicamente porque ele representava a cara de fora do sistema politico e o eleitorado estava agastado com a classe politica. Votou num outsider. Em parte é verdade, mas agora se vê mais claramente outro e diferente EUA que o ajudou na eleição.
Habitantes de cidades maiores versus outro EUA de gentes com pouco estudo, com medo do estrangeiro e dos modismos dos grandes centros. Um país muito mais dividido do que se imaginava.
A questão racial, os movimentos contra violência policial ou, por outro lado, os que defendem a atuação da polícia para manter a ordem, terão forte apelo na eleição. Os lados procuram mostrar que quem tem condições de estancar desordem é este e não o outro.
Essa questão da lei e ordem nunca esteve tão em evidência e de forma apelativa para voto como agora. Um lado procura amedrontar o eleitor de que se esse for ao poder a desordem tomaria conta do país.
Mas, interessantemente, quase não se fala em corrupção na eleição. Nesse caso especifico não tem semelhanças com a América Latina, esse dado é bem diferente lá e cá.
Economia e emprego sempre foram os assuntos que dominavam eleição nos EUA. Continuam importantes, mas outros tópicos entraram na agenda com força, talvez até maior do que os de sempre.
Na eleição presidencial emerge um diferente EUA. E que, em muitos aspectos, parece com o que os norte-americanos pintam da América Latina. Ou um tipo de EUA da América Latina, não da América do Norte.
Alfredo da Mota Menezes é Analista Político.
E-mail: pox@terra.com.br Site: www.alfredomenezes.com
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