Segundo o Gartner, 2023 será um ano em que as empresas terão quatro prioridades-chave:
? Otimizar a resiliência, as operações ou a confiabilidade;
? Escalar a produtividade e o valor do cliente por meio do avanço em soluções, entrega de produtos e conectividade;
? Priorizar o engajamento do cliente, por meio de respostas e identificação de oportunidade rápidas;
? Buscar soluções tecnológicas sustentáveis.
Diante disso, as empresas precisarão investir pesado em tecnologias emergentes e em capacitação dos seus colaboradores. Sem um alinhamento entre metas, capacitação e tecnologias, os resultados não acontecem. E, se acontecerem, corre-se um risco muito grande de não serem perenes.
Uma nova tecnologia só renderá frutos se a equipe estiver preparada para utilizá-la, senão, sua implementação ficará de lado e, no médio prazo, será descartada.
Quem não se lembra da febre do ERP?
Se você é da década de 80, como eu, deve se lembrar da febre dos ERPs (Enterprise Resource Planning, um software de planejamento de recursos que prometia melhorar a gestão das empresas). Havia uma época - logo que me graduei, em 2006 - em que empresas pequenas e médias adotarem um sistema de gerenciamento e planejamento era febre. Todos queriam.
Nessa época, só as grandes companhias possuíam sistemas confiáveis, cuja implementação havia sido penosa. Entretanto, pela propaganda na época, o tal ERP era pintado como a salvação dos problemas. Diante do desafio de acelerar o seu crescimento, o sócio da pequena empresa comprometia grande parte da sua renda com a aquisição do dito sistema.
Detalhe: sua equipe mal sabia lidar com as planilhas e formulários existentes. A maioria da gestão da informação era no papelzinho, mensagens e e-mails - mas, ao invés de estruturar um treinamento geral, a solução padrão era o sistema. E pior, o sistema tinha que se adequar aos seus processos quase sempre não padronizados.
A minha primeira consultoria foi um pesadelo. Empresa de pequeno porte, mais ou menos 5 milhões de faturamento anual e 40 colaboradores. Processos sem padrão e soluções dependentes dos talentos individuais e do contato bastante direto com os clientes. Sugeri mapearmos os processos principais, das áreas com pior desempenho. Depois, realizamos um projeto de melhoria com o meu treinamento e mentoria. Entretanto, os donos preferiram contratar um "desenvolvedor" terceiro para criar um sistema caseiro. Qual você acha que foi o resultado?
A febre das soluções mágicas continua
Depois da aventura do ERP, a tendência de contratar um sistema que consiga fazer as pessoas trabalharem de forma disciplinada e otimizada continua. A moda seguinte foi o marketing de conteúdo e o CRM (Customer Relationship Management). Nos anos 10, a queridinha da "transformação digital" era a área comercial e o marketing. E o que vocês acham que aconteceu? A mesma coisa do ERP. Parece que o aprendizado necessário para implantar um novo processo e sistema não foi absorvido pelo mercado.
A exemplo do ERP, muitos sistemas interessantes tiveram sua implantação abandonada pela falta de gestão e disciplina. Mais uma vez, tive a oportunidade de participar da implementação de um famoso software de automação de marketing na FM2S e numa empresa cliente. Aqui, sofremos, mas a implantação aconteceu. Lá, sofremos e desistimos do sistema. Por que?
Aqui nós respeitamos a liturgia. Para a implantação do sistema, aprendemos como ele funcionava e elaboramos diversos Padrões Técnicos de Operação para que todos pudessem segui-los. Também definimos os itens de verificação e controle para garantir o sistema funcionando e o processo entregando seus resultados. Tudo isso, claro, recrutando e capacitando a equipe nesse processo e fazendo auditorias periódicas para garantir sua execução.
Em nosso cliente, a percepção era pueril. Parecia que o sistema havia sido concebido pela antiga "Organizações Tabajara", do saudoso Casseta e Planeta. Como num passe de mágica, toda falta de procedimento da área seria solucionada, bem como a alta rotatividade da equipe e a ausência de foco da liderança. Não havia metas e nem bônus atrelados à implantação do sistema. E todos falavam mal, pois se nos forem dadas as opções de 1) mudar ou 2) provar que a mudança não é necessária, tendemos a ir na segunda.
E as tendências de 2023?
Então, apesar dos inúmeros softwares que serão propagados como as tendências do próximo ano, tenha em mente: antes de implementar qualquer mudança, prepare seu time e mapeie seus processos.
Como dizia o Deming, não há pudim instantâneo, por mais que queiramos crer que tenha. Sendo assim, antes de entrar no Metaverso, implementar Blockchain para tornar seus arquivos mais confiáveis ou colocar RFID no seu armazém, pergunte-se: estou no limite da tecnologia que eu já tenho? Ou há espaço para melhoria revisitando os processos, os indicadores e a matriz de habilidade dos colaboradores?
Acho que sua operação pode ficar mais resiliente e confiável só melhorando a sua gestão. E feliz 2023!
Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.
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