Vivemos dias tensos em que a desinformação e os ataques desnorteados têm sido o carro chefe das interações nas redes sociais, somados ao negacionismo constante das verdades históricas. Nunca se defendeu tanto o direito de mentir como estamos defendendo agora; o direito da minha mentira. Falar mal de alguém ou de algo, mesmo que sem conhecimento de causa ou fundamentos. Mesmo que essas invencionices destruam a reputação ou a vida de uma pessoa. Está sendo chamado de direito democrático.
Todo este conflito de interesses e disparates tem a ver com o fim dos tempos. Não do mundo, até porque nenhum de nós é o centro do mundo e ele não se acaba enquanto nos autodestruímos. O fim dos tempos de apontar dedo e exigir soluções sem tomar parte na solução. Há quantos anos se exige saúde no Brasil? Apenas exigimos, mas nós, cidadãos, fazemos a nossa parte? O descumprimento das regras sanitárias para a covid-19 é um exemplo claro do “cuida de mim porque eu pago imposto!”. Paga mesmo? O suficiente? E porque eu mesmo não posso ser cuidadoso com minha vida e meus interesses?
O tempo todo tem gente perguntando o que os políticos podem fazer por eles, o que o Estado pode fazer por eles, o que as outras pessoas podem fazer pelo meu eu. Não perguntamos o que eu posso fazer pelo outro, pelo meu estado, pela minha própria vida. Vem ai uma campanha política e será a mesma cantilena: “o que o senhor ou a senhora vai fazer por ‘nóis’?” Ou “me ajuda já agora que arrumo uns votos para você”. Ou seja, me dá um dinheiro aí.
Nas nações das quais sentimos inveja, seja pelo baixo índice de corrupção ou pelo alto índice de desenvolvimento humano (IDH), as pessoas em geral fazem mais pelo Estado do que recebem dele. O exercício de cidadania é rigoroso. Em 1964 o então presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, já falava: “Não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por seu país”.
Dentre os seis presidentes que elegemos, três foram com perspectivas milagreiras. Fernando Color de Mello, caçador de marajá; Lula, o pai dos pobres; e Jair Bolsonaro, o justiceiro. Nenhum vingou e nem tinha como vingar porque não há magica fora da educação e do comportamento coletivo.
Agora em 2020 a covid-19 está pegando as pessoas pelo pescoço e sufocando para ver se a gente entende que “quem cuida da sua vida é você”. Seja cidadão, não transfira afazeres básicos, assuma a responsabilidade de existir, não terceirize sua vida.
João Edison é Analista Político, Professor Universitário em Mato Grosso.
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