• Cuiabá, 23 de Novembro - 00:00:00

Do ódio ao rótulo e deste ao atentado

“Quem pretende destruir as paixões, em vez de as regular, quer fingir-se inocente”. Voltaire

Muitas vezes é necessário se perguntar como muitos países, povos, ou mesmo famílias, chegaram ao ponto de se odiar tanto que são capazes de cometerem atentados contra seus próprios irmãos? Os fatores são muitos, mas a resposta é única: ódio. Logo podemos ver que estamos no caminho certo, se é que queremos mesmo destruir o Brasil.

O ano era 2013, o mês junho. Ocorria no país a Copa das Confederações, com vista a Copa do Mundo de 2014, e explodiu nas ruas de São Paulo uma passeata enorme que rapidamente se espalhou por várias cidades do Brasil, principalmente nas capitais. Em meio ao movimento surgiu os Black Blocks, disseminando a violência e a quebradeira. O governo era Dilma em seu primeiro mandato e em busca da reeleição.

Considerando esta passeata, a derrota vexatória da seleção dentro de casa, a eleição disputadíssima e construída sobre um conjunto de inverdades de ambos os lados, as constantes operações policiais, o noticiário com canos escorrendo dinheiro (Operação Lava Jato), o impeachment, as acusações no Congresso, o Joesley Batista e sua gravação criaram um clima que só poderia vencer a eleição de 2018 quem mostrasse para a população maior capacidade de odiar.

O embate que resultou em impeachment já traduziu sentimentos de revolta e ódio em rótulos. Quem não se lembra das palavras “golpista” e ‘fascista” repetidas aos borbotões por aqueles que estavam sendo desagarrados do poder?

A campanha política de 2018 foi maculada por um atentado a um dos candidatos (Bolsonaro) e o pior o executor (Adélio Bispo), com longa militância em partidos que formavam a base do Governo Federal justo a  mais envolvida na Lava Jato.

Foi eleito quem demonstrou ter maior capacidade de representar o ódio e a revolta. Embora tenha recebido voto de muitos outros setores, o que realmente moveu Jair Bolsonaro foi a representatividade da indignação atrás das palavras proferidas em campanha e principalmente nas redes sociais. Uma coerência entre a campanha e a gestão. Foi o ódio que me trouxe até aqui, logo odiar é preciso.

Como é impossível gestar pessoas com ódio em uma democracia com suas diversas conjecturas e contradições? Sensatamente podemos dizer que o ódio que o conduziu ao poder não sustenta governabilidade. Mas como fazer então? Retornamos a dualidade e busca-se no passado o ponto de equilíbrio; E o PT? E o “Luladrão”? Quando isto não é suficiente rotula-se então de comunista e “esquerdalha”. Isso tudo são mais que rótulos; são tábuas de salvação para a falta de explicações e ausência de resultados.

Em se persistindo este ódio patrocinado e rotulante que arrebanha e infla pessoas estaremos a um passo do surgimento de atentados, ou mesmo confrontos grupais que ceifam vidas de inocentes. A história está aí para mostrar como estamos caminhando a passos largos nesta direção.

Precisamos urgente de um pacificador antes que este ódio inicie um derramamento de sangue, principalmente de inocentes. Como assinalou Platão, é bom “não esperar por uma crise para descobrir o que realmente é importante”.

 

João Edison é Analista Político, Professor Universitário em Mato Grosso.



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