É muito comum as mulheres relatarem um estado de solidão após terem filhos, como se elas ou suas necessidades não fossem mais visíveis para a maioria das pessoas, inclusive para elas mesmas. Você já sentiu algo assim ou observou em alguém?
Seja por questões culturais, biológicas e/ou emocionais, há um divisor de águas na vida da mãe assim que dão à luz. Quando é o primeiro filho, a mudança é mais profunda, por se tratar de uma experiência nova e por ela deixar de ser o centro das atenções.
Com a chegada da criança tudo muda. Muda para a mulher, para o homem e para o casal, que nem sempre está preparado para a nova fase. Responsável em atender praticamente todas as necessidades do bebê, a mãe entra em uma rotina que a esgota quase completamente e com isso perde a própria identidade.
Dorme pouco ou nada nos primeiros meses, não tem mais tempo para se alimentar confortavelmente ou mesmo tomar banho. Todas as suas questões pessoais e profissionais ficam em segundo plano. O que de início é algo muito natural, com o tempo, pode gerar adoecimento.
No meio de um turbilhão de novidades está o homem, que nem sempre sabe o que fazer diante da nova dinâmica familiar. Ressentida e geralmente muito cansada, a mulher costuma cobrar apoio, participação, mas de uma forma que às vezes faz com que ele se isole e distancie. Por isso, é comum casamentos terminarem nessa fase.
Longe de ser um bicho de sete cabeças, todas essas vivências são naturais e a grande maioria da população mundial enfrenta as mesmas dificuldades. Para a mulher, há uma cobrança para que se torne uma heroína com a chegada da maternidade. As redes sociais estão repletas de mães perfeitas e maravilhosas, cheias de receitas muitas vezes impossíveis de colocar em prática, aumentando essa angústia.
Um sinal muito claro de que devemos rever nosso conceito a respeito do tema: a cada quatro mulheres, mais de uma apresenta sintomas de depressão no período de 6 a 18 meses após o nascimento do bebê. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam ainda que 25% mães brasileiras são afetadas por depressão pós-parto.
Diante desse quadro, você consegue olhar para si mesma e se despedir do papel de super-heroína perfeita e maravilhosa? É possível se ver apenas como uma mulher comum, que também possui necessidades a serem atendidas, que comete erros, desanima, cansa, tem medo e quer se trancar no banheiro para ter um momento para si, sem culpa?
Como uma profissional que atua há mais de 20 anos na área familiar, vejo na prática que o relacionamento com a mãe é algo definidor na vida de uma criança, gerando reflexos positivos ou negativos para o resto da vida. Mas é importante frisar que quando a mãe está bem consigo mesma, aceita a si mesma sem idealizações e culpas, a criança estará bem.
Então, este é um momento de reavaliar que tipo de mãe nossas crianças realmente precisam. Certamente não é alguém exaurida e infeliz porque não é perfeita como sonhou ou como a 'fulana' diz e mostra no Instagram.
Além disso, ao liberarmos a nossa mãe de expectativas extraordinárias, liberamos a nós mesmos para conduzir a vida dentro dos parâmetros reais. Ficamos menos ansiosos, mais satisfeitos e sentimos a leveza adentrar na nossa rotina.
Seguimos bem por estarmos tranquilos na nossa origem. Não brigamos mais com a fonte da vida. Por consequência, não brigamos mais com a vida em si. Caminhamos, gratos, por ter a mãe e o pai que temos. E tudo que faz parte se torna força em nossos movimentos.
Neste dia das mães, tenho um convite: solte todas as exigências em relação à maternidade. Solte as amarras a antigos conceitos de certa ou errado, porque o que verdadeiramente importa é viver o dia de hoje com sabedoria e habilidade. Sem que isso seja um peso. Feliz dia à todas as mamães!
Dulce Figueiredo é psicóloga com 24 anos de experiência e pedagoga pela UFRJ, especialização em terapia de família sistêmica, MBA Gestão de Recursos Humanos, @dulcefigueiredopsicologa, dulcefig@gmail.com
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