Neste dia 23 de março, Carmem e eu comemoramos 50 anos casados. Bodas de ouro. Em vão tento rever todos os momentos dessa jornada que se iniciou em Brasília, no distante 23 de março de 1968. Dois jovens cheios de sonhos. Mais do que sonhos: energia e destemor pra encarar a vida e o mundo.
Como toda viagem longa, sentimentos e emoções fortes. A menina de 20 anos e o menino de 23 envelhecem felizes. A menina era uma gigante pra lidar com tudo que a vida lhe traria. O menino tinha muito mais coragem do jamais imaginaria. Os dois juntos, gigantes que a vida testaria muitas vezes.
Chegamos até aqui. Eu com 74 e ela com 70 anos de vida. Ambos com sorrisos no rosto. Nossa árvore frutificou. Deu-nos 4 filhos: André, Fábio, Marcelo e Tiago . Eles nos trouxeram as filhas que não tivemos: Maria do Carmo, Aline, Daniela e Mariana. Eles nos presentearam seis netos: Miguel, Gabriel, Luka, Enzo, Pietro e Alice. Miguel nos trouxe Mariana e juntos nos deram Mateus, Vitória e Maria Luisa.
Meu sogro Odon e minha sogra Olimpia, assim como meu pai Sebastião nos deixaram ao longo dessa jornada. Minha mãe, dona Júlia resiste nos 92 anos morando em Brasília. Uma usina de energia atômica!
Mudamo-nos pra Cuiabá. Vim sozinho em 1976. Carmem e as crianças no início de 1977. Construímos uma vida muito boa aqui. Amigos em larga quantidade. Da melhor qualidade. Generosidade, companheirismo, fraternidade. Os filhos cresceram aqui. Fabinho mudou-se pra Aracaju e Marcelo pra Bahia. Marcelo, de lá, abriu outra jornada em carreira solo no mundo espiritual.
Continuamos morando da mesma casa no bairro Shangrilá. Muitos vizinhos amados da mesma época que nós nos mudamos. Casa grande. Parece enorme hoje. Mas dentro dela ainda povoam gritos, risadas, conversas dos filhos. As músicas que ouvíamos na hora do almoço ou pra fazê-los dormir. As longas conversas com cada um deles quando pisavam na bola ou queriam conversar...! O cheiro das travessas enormes de rosquinhas com coco ralado por cima e os pães que cheiravam até na rua de cima, que a Carmem fazia pra alimentar toda aquela turma de filhos e de amigos que faziam de nossa casa um hotel.
Hoje estamos serenos. Juntos. Certezas mais do que dúvidas. Algumas saudades inevitáveis. Lembranças agradáveis e aqui e ali um fato menos agradável. Todos fizeram parte da estrada.
Nossos corações estão serenos. Nossos julgamentos são de paz conosco mesmos. A vida segue e vamos juntos apreciando a felicidade construída. Ao nosso redor, amigos, família, filhos, noras, netos, bisnetos, parentes. Uma sensação de vida com o cheiro penetrante do alecrim numa hora. Ou do capim cidreira nas horas calmas. No restante, cheiros que vem junto com o vento suave dos fins de tarde...! (Pano do palco fechando com os olhos afogados em doces lágrimas)
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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