Os analfabetos hoje não são mais as pessoas que não sabem ler ou escrever. Uma nova classe emergente de gente sem os conceitos básicos para navegar pela internet começa a surgir e engrossar o grupo dos analfabetos digitais.
Segundo o IBGE são 11 milhões de analfabetos funcionais no Brasil. Aqueles que, embora saibam assinar o nome, não têm instruções básicas para ler nem escrever. No entanto,170milhões de brasileiros não têm acesso à internet no pais.
São 11 contra 170. E essa conversa vai de tom de dificuldade a um obstáculo sem precedentes. Já que temos gente que não sabe o que é Wi-Fi, que não tem um e-mail e tao pouco sabe o que é uma smartphone.
A deficiência começa ao formar pessoas, e a conta não fecha. Se o formato convencional do ensino brasileiro já é falho, imagine o que acontece quando despencamos uma legião de pessoas mal instruídas para a vida digital com a possibilidade de fazer o que quiser.
Os abusos e crimes virtuais serão uma realidade cada vez maior, e o que deveria incluir, será motivo de exclusão.
A cena vai ser bizarra: pessoas se abarrotando para ter acesso a uma tomada para carregar seu smartphone, e pedófilos, fake news e nudes inundando feeds de redes sociais, sem chancedas pessoas distinguirem o que bom ou ruim para eles.
Na prática teremos mais gente com o dispositivo na mão, mas que não saberá ao certo para que serve.
Sabemos que hoje não criamos nossos filhos para o mundo em que fomos criados. Mas pense em alguém que, como você, se esforça para dar uma boa educação, aquela de valores familiares; mesmo que seja um analfabeto, se vê em meio a uma realidade que não compreende e que não consegue inserir seu filho nesse universo, para progredir.
Será mais gente fora da escola, do mercado de trabalho e das relações familiares. Serão mais criminosos, valores distorcidos e uma população cada vez mais numerosa sem instrução do universo digital para o físico.
Sim, porque a ideia de se colocar mais gente com critérios deficientes ou valores inexistentes em ambiente digital, vai ser absorvido pela vida real. E o impacto disso vai ser desastroso.
Sou responsável por assustar as pessoas quando, baseado em estudos, observo o cenário caótico que podemos ter nos próximos anos com a falta de zelo pelo operacional da cena digital.
E não temos certeza de nada, mas podemos ter atitudes hoje que contribuam para a transformação digital que tanto desejamos.Educação não é vacina, mas é o melhor que podemos fazer para não criar uma onda de analfabetismo digital.
Nunca é cedo para ensinar e tampouco tarde para aprender. O que não podemos é ficar de braços cruzados, culpando as políticaspúblicas por atitudes que poderiam ser tomadas por nós, afinal de contas, quem geara empatia, ensina e aprende.
Temos que repensar sistemas educacionais melhores, reconsiderar programas de estágio mais atrativos, e estimular o aprendizado para a vida.
A reflexão aqui é de estimular todos a pensar como vamos barrar os avanços do analfabetismo digital e evitar que esses 170 milhões e muitos mais de brasileiros sem acesso à tecnologia consigam buscar oportunidades de transformar suas vidas, inseridos no virtual de forma clara.
Como cidadã comum, penso que é hora de sermos protagonistas nessa brincadeira e ir a campo. Podemos apadrinhar crianças e jovens que geram essa educação ou fazer nós mesmo.
Conhece alguém que não tem e-mail? Que não sabe o que é wi-fi? Explique, debata, invista financeiramente a educação dessa criança, jovem ou adulto. Somente incentivando a empatia, criatividade e coragem, teremos um ambiente digital como desejamos no real.
Maria Augusta Ribeiro é profissional da informação, especialista em Netnografia e Comportamento Digital - Belicosa.com.br
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