No mês dedicado à saúde da mulher, é tempo de olhar com sensibilidade para aquelas que vivem entre muros e grades — as servidoras penitenciárias, que cuidam de um sistema inteiro, mas muitas vezes esquecem de cuidar de si.
Outubro chega vestido de rosa, lembrando o mundo da importância do autocuidado, da prevenção e da vida. Nas ruas, as campanhas ganham cor, voz e emoção. Mas, dentro dos muros do sistema penitenciário, essa mensagem precisa ecoar ainda mais forte — porque ali estão mulheres que enfrentam o peso da rotina, a tensão constante e a invisibilidade de uma das profissões mais desafiadoras do serviço público.
As servidoras penitenciárias, que todos os dias garantem a ordem, a segurança e a dignidade humana em ambientes de altíssimo risco, também são mulheres, mães, filhas e, muitas vezes, sobreviventes de uma jornada que cobra caro da saúde física, mental e emocional.
O Outubro Rosa é, sim, sobre a prevenção do câncer de mama — mas também é sobre autocuidado, empatia e políticas de saúde que enxerguem as mulheres em toda a sua complexidade. No caso das servidoras penitenciárias, isso significa olhar para os riscos e doenças inerentes à sua profissão, para o estresse que corrói aos poucos e para os silêncios que adoecem.
Trabalhar em presídios significa conviver diariamente com tensão, privação de sono, ruído, calor extremo e constante estado de alerta. Esse ambiente hostil impacta diretamente o corpo e a mente. Pesquisas da SENAPPEN mostram que hipertensão, obesidade e doenças ortopédicas são comuns entre os servidores, mas as doenças mentais e o câncer preocupam ainda mais.
O estresse crônico, somado à falta de pausas, má alimentação e à dificuldade de acesso a exames preventivos, cria um terreno fértil para o adoecimento — inclusive para doenças graves como o câncer, que está diretamente relacionado a fatores hormonais e emocionais.
É simbólico que tantas dessas mulheres, acostumadas a cuidar dos outros, tenham dificuldade em cuidar de si mesmas.
Algumas deixam de fazer mamografias por falta de tempo; outras convivem com sintomas que ignoram por medo de parecer "fracas". Há ainda aquelas que enfrentam diagnósticos em silêncio, temendo perder o posto ou serem vistas como incapazes.
E o sistema, muitas vezes, não acolhe aliás, as expõe diariamente aos ricos através da exposição a equipamentos radioativos, faltam programas permanentes de saúde da mulher, campanhas internas de prevenção e acompanhamento psicológico continuado. Quando a estrutura institucional falha, a força individual se esgota.
Falar de Outubro Rosa dentro do sistema penitenciário é falar de cuidado coletivo. É lembrar que por trás dos muros há uma mulher com histórias, sonhos e vulnerabilidades. É reconhecer que a saúde feminina deve ser pauta constante, e não lembrada apenas em outubro.
É urgente, sobretudo, valorização e reconhecimento dessas profissionais que dedicam tanto de si para manter um sistema em funcionamento.
Neste Outubro Rosa, que o rosa ultrapasse os muros e chegue às unidades penitenciárias como símbolo de amor e respeito pela vida dessas mulheres.
Que o cuidado não seja um privilégio, mas um direito.
E que cada servidora penitenciária se sinta lembrada, valorizada e, acima de tudo, viva porque um sistema mais humano começa quando olhamos com ternura para quem o sustenta.
Eunice Teodora, a Nicinha, presidente do SINPHESP/MT (Sindicato dos Profissionais de Nível Superior com Habilitação Específica do Sistema Penitenciário de Mato Grosso.
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