Em tempos de muros e de medos, a instalação 'Netither', da artista colombiana Doris Salcedo, no Instituto Inhotim, MG, funciona como o retrato de uma época. Suas telas de ferro e gesso que cobrem todas as paredes brancas da galeria parecem alertar para uma ilusão de liberdade numa realidade de cerceamento.
A obra, idealizada após a uma visita de Salcedo ao campo de concentração em Auschwitz, Polônia, e apresentada pela primeira vez na galeria White Cube, em Londres, em 2004, proporciona a rara chance de pensar, numa espécie de meditação, sobre as tensões entre o desejo de voar e as limitações que são impostas pela sociedade.
Não se trata aqui de pensar somente na esfera política. Talvez a maior impossibilidade que o homem sofra, por influência externa e/ou interna, esteja nas barreiras que estabelece para a própria mente. Quando começa a temer o ato de imaginar e de sonhar, começa a morrer por dentro e grades, embora invisíveis no espaço, tornam-se visíveis nas ações.
Algo semelhante ocorre em 'Sombras de reis barbudos' (1972), de José J. Veiga. O texto narra como uma cidade se torna prisioneira de muros de toda ordem. Salcedo e o escritor brasileiro, assim, nos alertam, cada qual a seu modo, para a ascensão de cinco paredes: a política, a social, a econômica, a ideológica e a mental.
Oscar D'Ambrosio, Doutor em Educação, Arte e História da Cultura e Mestre em Artes Visuais, atua na Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp.
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