• Cuiabá, 21 de Outubro - 00:00:00

Fávaro pode ser contraponto entre bancada de MT e Governo Lula, crava Vivaldo Lopes


Rafaela Maximiano

O cenário da economia brasileira para o ano de 2023 com o novo Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esse foi o tema da Entrevista da Semana abordado com o economista Vivaldo Lopes.  

Experiente também no campo político, Vivaldo pontua ao FocoCidade, uma análise do mercado econômico nacional e internacional; os desafios do novo Governo Federal para equilibrar as contas públicas, diminuir as desigualdades sociais, atrair investimentos, gerar emprego e renda e fazer a economia brasileira novamente crescer.  

“A leitura para o cenário nacional é de uma economia crescendo baixo, uma inflação ainda comportada, mas acima da meta que é de 3,25% para 2025 e uma taxa de juros elevada”, alerta Vivaldo que recomenda ao consumidor cautela para o ano de 2023.  

Em suas considerações ressalta que “para Mato Grosso o cenário é diferente, temos um quadro mais otimista que os demais estados. Porque o setor agropecuário que é a locomotiva econômica do Estado e este vai continuar crescendo”.  

Porém, observa que “a oposição extremada, ostensiva e permanente contra o Governo Federal de sete deputados federais, pode ser um fator que não vai ajudar Mato Grosso”.

Confira a entrevista na íntegra:  

Qual avaliação que o senhor faz da economia brasileira para o ano de 2023: teremos um cenário positivo por exemplo para a geração de empregos, diminuição da taxa de juros, queda de preços para o bolso do consumidor?  

O cenário econômico para 2023 da economia nacional é uma economia de crescimento baixo, inflação na faixa de 5% - portanto uma inflação em queda em relação ao que começamos em 2022 que era de 12% e vamos terminar o ano em 6%, e, 2023 há uma projeção que a inflação fique em torno de 5% e taxas de juros altas, 13,75% a taxa básica que é a Selic do Banco Central. E, uma taxa de desemprego, que caiu em relação ao que começou 2022 em torno de 12% para 8%.   

A minha leitura é que esse cenário vai perdurar ao longo do ano de 2023, uma economia crescendo baixo, a previsão é que o PIB do Brasil vai crescer 1% em 2023, com uma inflação de 5% e uma taxa de juros alta ainda, e uma taxa de desemprego também alta em torno de 8%.   

A taxa de juros alta inibe o consumo das famílias, inibe a expansão das empresas, portanto tem um efeito contracionista. O objetivo do Banco Central ao elevar a taxa de juros é exatamente para conter a inflação que estava em um patamar elevado depois da pandemia. Portanto a leitura para o cenário nacional é de uma economia crescendo baixo, uma inflação ainda comportada, mas acima da meta que é de 3,25% para 2025 e uma taxa de juros elevada.  

E qual o cenário para o mercado internacional em relação ao Brasil em 2023?  

Colabora para o cenário nacional que eu pontuei, um pouco dos efeitos da economia mundial. A economia global também vai ter um ano de contração, vai ter um ano de retração econômica. A Europa toda vai crescer menos porque vai precisar combater também uma inflação acima de 9%, coisa que eles não veem há 40 anos. A guerra da Rússia está encarecendo os insumos industriais e a agropecuária, os Estados Unidos também pisarão no freio da sua economia para combater uma inflação de 8%, coisas que eles não veem há 41 anos. E, a China que está ainda labutando com essa onda tsunâmica da covid.  

A cena mundial indica que não vamos ter uma economia mundial crescendo forte, ao contrário, temos um cenário de retração nas principais economias: asiática que é China, Japão, Coréia do Sul e Singapura; como a Europa e Estados Unidos. E, isso produz um efeito aqui no Brasil: diminui exportações e reduz investimentos externos.   

Então é um cenário que não é tão favorável, por outro lado, a minha leitura é que a entrada de uma nova liderança nacional, no caso o presidente Lula, ele normalmente tem o efeito de impulsionar a economia especialmente no segundo semestre, isso na minha leitura. Isso porque o primeiro semestre vai ser um período de estudo, expectativa e de análise das medidas econômicas que vão ser tomadas logo no começo.   

Economistas têm pontuado que um dos grandes desafios do novo governo federal será de equilibrar as contas públicas: o senhor acha que o Governo Lula vai conseguir atuar com teto de gastos e dar conta de pagar o bolsa família de R$ 600,00 por exemplo?  

O grande desafio do presidente Lula e seu time é aumentar os investimentos sociais para combater a pobreza, combater a desigualdade. Ao mesmo tempo retomar os investimentos para a economia e atrair investimentos que vão gerar novos empregos e permitir o andamento normal da economia. E, o terceiro desafio é manter as finanças do país equilibrada. Na minha leitura ele vai conseguir isso no segundo ano. O primeiro ano vai ser um ano de arrumação de casa, porque a herança que ele vai encontrar em termos fiscais é uma herança de terra arrasada. As finanças, o equilíbrio fiscal está destruído literalmente. O governo Bolsonaro explodiu oito vezes o teto de gastos.   

Portanto, o teto de gastos foi uma medida tomada em 2016 e que não funciona mais. O Governo do PT e do presidente Lula já assinalou que não vai seguir o teto de gastos, mas vai propor um novo arcabouço de segurança fiscal para o país. A expectativa é que teremos ainda no primeiro semestre de 2023 uma nova estrutura, um novo conjunto de medidas para manter o equilíbrio das finanças públicas do país. É um grande desafio e na minha leitura não vai ser vencido no primeiro ano, que será de retomar o equilíbrio e arrumar a casa para uma expectativa que o país volte a crescer e isso no último semestre de 2023.  

E, a situação com os Estados e municípios, em particular Mato Grosso, o cenário econômico é o mesmo?  

Para Mato Grosso o cenário é diferente, temos um cenário mais otimista que os demais estados. Porque o setor agropecuário que é a locomotiva econômica do Estado vai continuar crescendo. Vamos colher uma grande safra em 2023, as exportações não serão tão alteradas mesmo com o cenário de contração da Europa, dos Estados Unidos e China – porque a China vai reduzir importações de aço, petróleo, mas não deve reduzir a importação de grãos e de proteína animal, que são os principais produtos que Mato Grosso vende.   

Dentro do país, mesmo com a queda de renda, o emprego, o mercado de trabalho ainda sendo retomado, na minha leitura o consumo não vai baixar tanto porque a injeção de recurso com novo Bolsa Família vai reaquecer o consumo de famílias pobres. E maior parte desse recurso do Bolsa Família vai para pagar contas domésticas.  

Enquanto o cenário nacional é de crescimento de 1% avalio que Mato Grosso tenha um crescimento de 3,5% a 5%. A economia em Mato Grosso tem o que chamamos de um descolamento da economia nacional. Não somos uma ilha, não vamos crescer 10% enquanto o Brasil está crescendo 1%, mas como o forte nosso é a produção e a exportação de mercadorias agrícolas e carnes, a economia de Mato Grosso não vai sentir tanto com o baixo crescimento da economia nacional.  

A política econômica vai afetar Mato Grosso por exemplo, a partir de janeiro já serão retirados a isenção de pagamentos de tributos federais sobre os combustíveis, então os combustíveis vão aumentar a partir de janeiro, isso afeta todos os Estados e afeta Mato Grosso. Portanto os custos com óleo diesel, gás, devem aumentar em janeiro porque não acredito que ainda no primeiro trimestre a Petrobrás vá alterar sua política de preços. Deve demorar aí pelo menos no segundo semestre.

Por outro lado, Mato Grosso, é pouco dependente dos recursos federais. O pouco que esperávamos do Governo Federal, não precisamos mais. Nem nas rodovias, a única rodovia federal que tinha aqui que precisa de recursos era a 163 que foi privatizada, as ferrovias não dependem de investimentos do Governo Federal e a tecnologia 5G todo investimento da infraestrutura é feito pelas operadoras. E, a grande política do Governo Federal para Mato Grosso é o plano safra que financia a produção agropecuária aqui. Mas mesmo assim o capital privado, as trades e o próprio capital dos produtores agrícolas de Mato Grosso já respondem pela maior parte do financiamento da safra. Então, não vejo que a política econômica do Governo Federal, vá atrapalhar o crescimento da economia de Mato Grosso.  

O Congresso pode atrapalhar a política econômica tendo em vista a oposição forte que se desenha contra o presidente Lula ou isso pode ser contornado?  

Eu acho que o Congresso vai impor muitas dificuldades para o presidente Lula e sua equipe implantar as políticas que tem mais a cara do partido e seus aliados. É um grande desafio para o presidente Lula enfrentar um Congresso que em sua maioria é oposição e é mais à direita.

Mas a sabedoria política do presidente Lula e o conjunto de aliados que ele conseguiu formar na campanha, a minha leitura é que ela vai ser ampliada. Se hoje ele tem 12 partidos na sua coalisão eu vejo que vai chegar a 15 fácil logo no primeiro trimestre de 2023. Isso vai ajudar um pouco e fazer com que o Congresso atrapalhe menos a implantação das políticas que estão no plano de campanha, no arco ideológico do presidente Lula e da sua coalizão.  

E a nossa bancada federal pode ajudar ou atrapalhar o Estado por ser em sua maioria oposição ao Governo Lula?  

De oito deputados federais eleitos nós só temos um que sinaliza ser da base do presidente Lula, vamos ter sete deputados fazendo ostensivamente oposição ao governo federal. Então é um fato que Mato Grosso tem que olhar com certo cuidado em termos de relação política.

Isso pode ser favorecido por exemplo com a confirmação do senador Carlos Fávaro como ministro da Agricultura. Um contraponto que pode ajudar Mato Grosso. Mas é uma observação que faço que essa oposição extremada e ostensiva e permanente contra o Governo Federal de sete deputados federais pode ser um fator que não vai ajudar Mato Grosso.  

Alguma dica ao consumidor para 2023?  

Cautela. Nós vamos ter um ano desesperador. Vejo com boas perspectivas especialmente para o segundo semestre. O consumidor deve evitar cartão de crédito, pagar a fatura no prazo e não refinanciar o saldo não pago, evitar o cheque especial e principalmente não tomar financiamento. Pegar financiamento em um cenário com taxas de juros que tem média de crédito diretos ao consumidor está em 46% de juros ao ano, segundo dados do Banco Central. Se for no cartão de crédito é 396% a fatura que não é paga do cartão de crédito. E, o cheque especial também está na faixa de 156% a taxa de juros, é muito elevado para você ficar dependendo de cheque especial ou financiar fatura do cartão de crédito. E o crédito direto ao consumidor livre que os bancos oferecem, na média está 46% a taxa de juros anual. É muito elevado para tomar financiamento nesse cenário, portanto é cautela e procurar poupar e evitar tomar empréstimos.  

Na minha leitura nós teremos o ano todo de 2023 a taxa de juros alta de 13,75% que é a Selic porque nós não vemos sinais de que a inflação vá reduzir tão rapidamente. Temos a inflação dos alimentos aumentando e a partir de janeiro a inflação de transportes deve aumentar com o preço dos combustíveis.

Isso porque o atual governo deu isenção dos tributos federais apenas até 31 de dezembro, a partir de 1º de janeiro essa isenção deixa de existir e o governo passa a cobrar os tributos federais sobre os combustíveis, apenas o ICMS continua em 17% como foi estabelecido em uma lei federal. Portanto, cautela. 




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