• Cuiabá, 28 de Novembro - 2025 00:00:00

Educar para o amanhã: por que a formação docente precisa assumir a sustentabilidade como eixo central


Carla Conti

Preparar professores para ensinar sustentabilidade não é apenas atualizar o currículo. É redefinir a própria base da formação docente. Em um mundo marcado por eventos climáticos extremos, desigualdades agravadas e mudanças tecnológicas aceleradas, a escola deixa de ser um espaço que apenas transmite conteúdos e passa a ser um lugar onde se aprende a cuidar de si, do outro e do planeta. E isso só acontece quando quem ensina também foi formado para enxergar a interdependência entre educação e futuro.

A sustentabilidade na formação de professores não se limita a projetos verdes ou datas comemorativas. Ela envolve desenvolver a capacidade de ler as urgências do presente: compreender como as mudanças climáticas alteram comunidades, como decisões políticas impactam ecossistemas locais e como práticas cotidianas reproduzem ou transformam desigualdades. É um exercício constante de ampliar o olhar e é justamente aí que a formação docente se fortalece.

Ao incorporar a sustentabilidade como eixo, professores aprendem a trabalhar com competências essenciais ao século 21: pensamento crítico, leitura de contexto, colaboração e tomada de decisão responsável. São habilidades que não apenas enriquecem as aulas, mas equipam os educadores para formar estudantes capazes de agir com consciência em um mundo em transformação. A sustentabilidade, nesse sentido, deixa de ser um tema e passa a ser uma lente.

Esse movimento já vem acontecendo em iniciativas inovadoras de formação continuada e em redes que experimentam novas práticas pedagógicas. Professores estão descobrindo que ensinar sustentabilidade pode começar por situações muito próximas: a relação da escola com seu entorno, o uso de recursos, o impacto de escolhas diárias. E, ao traduzir o global para o cotidiano, conseguem envolver os estudantes em aprendizagens que fazem sentido e geram pertencimento.

Formar professores para a sustentabilidade é, acima de tudo, assumir que educação é projeto de futuro. É reconhecer que cada sala de aula pode ser um laboratório de responsabilidade coletiva e que os educadores, quando preparados para isso, tornam-se agentes de transformação capazes de inspirar novas formas de viver, aprender e cuidar do mundo que compartilhamos.

 

*Carla Conti é doutora em Políticas Públicas (UFRJ) e pós-doutora em Gestão da Informação pela Universidade do Porto. Professora da graduação e do mestrado em Educação na Universidade Estadual de Goiás, pesquisa educação em direitos humanos, gênero e tecnologias digitais. Mineira de Passos e residente em Inhumas (GO), dedica-se à escrita de obras que cruzam desenvolvimento pessoal e crítica social. É autora de Sustentabilidade no ensino superior, livro que retorna 15 anos após a primeira edição em meio às urgências ambientais e sociais contemporâneas, com apresentação de Anabela Simões (Universidade de Aveiro) e prefácio de Andrea Kochhann (UEG).




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