• Cuiabá, 09 de Julho - 2025 00:00:00

O cenário eleitoral a 15 dias das eleições na análise de Alfredo da Mota Menezes


Rafaela Maximiano

“A emenda parlamentar acabou distorcendo a função dos parlamentos brasileiros de uma maneira geral, seja estadual ou federal. No horário eleitoral os candidatos à reeleição só falam em emendas e deputado não é para isto. Ele tem que falar quais as leis fizeram ou defenderam, políticas públicas, fiscalizar, e não da construção de pontes ou estradas. Isso é função do Executivo”.   

A crítica é do analista político e historiador, Alfredo da Mota Menezes, que na Entrevista da Semana ao FocoCidade faz uma análise do cenário eleitoral a 15 dias das eleições.

Entre os assuntos abordados: pesquisa eleitoral, a corrida à presidência da república, ao Governo do Estado e à vaga de senador por Mato Grosso. Também fala dos pontos positivos da polarização e o que chama de “amadurecimento da democracia brasileira”.

Boa leitura!   

Qual avaliação que o senhor faz do cenário político nacional em relação à corrida à presidência da república? 

A polarização veio para ficar mesmo. Esta é – ao menos de memória – a eleição mais polarizada que teve no Brasil. Lula de um lado, Bolsonaro de outro, e, a terceira via que a gente gostaria que crescesse com a Tebet ou Ciro, não ocorre.  

Mas no Brasil sempre houve polarização. Se olharmos lá para traz: Fernando Henrique e Lula; Lula e Serra; Lula e Alckmin; Dilma e Aécio; tudo era polarização. Agora está mais polarizado porque nós tínhamos um partido de centro-esquerda versus um de esquerda. Agora nós temos um de esquerda e um grupo mais à direita.  

Mas na minha opinião, o maior benefício político que o Jair Bolsonaro, presidente, vai deixar para o país, independente se ele fique mais quatro anos ou saia agora, é que a direita brasileira que sempre existia ela não botava a cara. Ela agora se mostrou, se identificou e isso é bom para a política brasileira, não é ruim não.  

E vejo que ao longo tempo esse maior radicalismo vai desaparecer, mas a direita e a esquerda vão ficar. O que faltou ou está faltando é um partido político em que essa direita se incorporasse. Esse grupo não pode ser eternamente reconhecido por bolsonarista. Nada contra Bolsonaro, é que tem que ter um partido que aquele grupo de direita está identificado. Isto para mim é o maior fato da política brasileira nos últimos tempos.  

Ainda sobre o cenário nacional, eu pesquisei em publicações jornalísticas que, desde que existe segundo turno nas eleições brasileiras, nas pesquisas de 15 dias antes das eleições mostra interessantemente que quem aparece à frente nessa pesquisa venceu as eleições. E agora estamos mais ou menos a 15 dias das eleições, então se isso também vai se repetir agora não sei, mas historicamente foi assim: quem está à frente nas pesquisas 15 dias antes das eleições venceu o pleito.  

Com relação às pesquisas eleitorais o que o eleitor deve estar atento para fugir de ser induzido por informações falsas?  

Eu sigo algumas pesquisas e vou explicar porque. Por exemplo o IPEC, que era o antigo IBOPE. Que tem que fazer o máximo possível para não “frajutar” e manter aquela “mística” do IBOPE.   

O IPESPE, que é outra pesquisa, faz junto com a XP. A XP é um grupo de investimento que analisa mercado para ver como está e ganhar dinheiro, então em tese, não pode “frajutar” pesquisa que vai se prejudicar e seus investidores.  

Outra pesquisa é a BTG Pactual, outra de grupo de investimento que analisa mercado para ganhar dinheiro, porque que eles vão fazer uma pesquisa para enganar seus investidores.   

E, outra que é mais lida é a do Datafolha que é do Jornal Folha de São Paulo. Ele não faz pesquisa para ninguém só para a Folha. Porque vai “frajutar” pesquisa para prejudicar a imagem de um dos principais jornais do Brasil junto com o Globo e demais.  

Eu sigo estas quatro pesquisas e O Estado de S. Paulo fez agora o agregador de pesquisas. Ele pega 14 institutos de pesquisas que fazem pesquisa e cita todos, inclusive esses que eu citei, e faz um trabalho de média e dá o resultado final dessas 14 pesquisas. Lá o Lula continua na média de 12 pontos percentuais à frente, no chamado agregador de pesquisa do jornal O Estado de São Paulo. Fica aí a dica.  

Qual avaliação do cenário estadual, da disputa ao Governo do Estado, a 15 dias da eleição?   

As pesquisas mostram o Mauro Mendes com uma vantagem considerável. Essa última do IPEC mostra uma diferença muito grande e inclusive ele cresceu sete pontos percentuais da última pesquisa para esta.   

Mas, o que me chamou a atenção nessa última pesquisa foi que a rejeição ao Mauro Mendes caiu seis pontos percentuais. Em tese, a 15 dias da eleição, ele sendo vidraça em que os outros candidatos atiram mais nele, entre os candidatos, por ele estar buscando a reeleição, eu avalio essa diminuição da rejeição até mais favorável à candidatura do Mauro, do que o próprio crescimento percentual de apoio.  

Está uma diferença muito grande e o que se acredita mesmo é que o Mauro ganhe a eleição com certa tranquilidade no primeiro turno.  

Como fica o novo nome que surgiu nesse pleito de Márcia Pinheiro?  

Apareceram outros nomes que poderiam ser candidatos ao Mauro. Por exemplo o de Fávaro. Apareceu também do Percival Muniz. O MDB do Carlos Bezerra está apoiando o Mauro Mendes e não dava suporte a essa candidatura. Lá atrás o nome do Emanuel Pinheiro era cogitado também. E depois o Emanuel que estava junto com essa coordenação de encontrar um nome para governo surgiu o nome da Márcia Pinheiro e ela reuniu qualidades: é mulher, tem participação na gestão do marido, porém é sua primeira vez como candidata na política, encontra um governador que está bem com a opinião pública e, aí temos um dado interessante: é a primeira vez que um governador sai candidato à reeleição com apoio de 140 prefeitos, só não o prefeito da capital. Então o nome dela apareceu porque os outros não vingaram, mas ela não tem essa vivência e fica difícil a candidatura dela para enfrentar o governador Mauro Mendes. 

Mas ajuda muito a ela se mostrar como política, como mulher e tudo mais; ajuda diretamente até a gestão municipal da prefeitura; e ajuda direta ou indiretamente na reeleição do filho a deputado federal, o Emanuelzinho, ou seja, acaba ganhando também.  

E qual análise o senhor faz da corrida ao Senado em Mato Grosso?  

Também as pesquisas mostram o Wellington Fagundes à frente. Eu faço uma brincadeira que goleiro e político tem que ter sorte e o Wellington teve e tem sorte na política. Tem que ter trabalho político também, mas tem que ter sorte.   

A Natasha Slhessarenko, não digo que ela ganharia a eleição, mas seria um nome novo no cenário, mulher, conhecida e que poderia tirar bastante voto, eu sempre achei que ela estaria aí com 20% a 30% dos votos. Ela retira a candidatura por vários motivos. No meio do caminho nós temos aí o Neri Geller, que é o maior confronto com o Wellington, com assuntos de quatro anos atrás que estava lá na Justiça Eleitoral e explodem no meio da campanha. Isso tem repercussão e acaba machucando eleitoralmente e tudo mais. Mas é claro que ele reverteu tudo isso, apesar de ficar sem o mandato de deputado federal ele manteve a candidatura dele, inclusive ele pode usar os recursos eleitorais para a campanha, mas acaba tudo isso chamuscou um pouco a campanha do Neri e beneficia a do Wellington. E, as pesquisas apontam o Wellington na frente nesse momento.  

E quanto à campanha deputado estadual: teremos renovação na Assembleia? 

Quase todos os deputados estaduais estão indo para a reeleição. Eu acho que uma grande maioria vai retomar. Ninguém tem esse número mágico de percentual, mas a prospecção é que a maioria daqueles que estão buscando a reeleição vai voltar. Eles têm no mínimo quatro anos de trabalho, tem verba indenizatória, tem emenda parlamentar, e etc. Fatores que acabam beneficiando a reeleição deles. No geral temos sempre uma renovação em torno de 50%. No meu ponto de vista, neste ano talvez, fique menos que isso, teremos uma renovação menor digamos assim.   

Considerações finais... 

Gostaria de pontuar, até como reflexão para o eleitor, como é impressionante o horário eleitoral brasileiro dos deputados federais nossos que estão candidatos à reeleição, em que eles falam somente que levaram obras aos municípios, levou emendas, fez aquilo. Ora, obras não é uma questão de parlamentar é questão de Executivo. Mas hoje o Parlamento Brasileiro seja, estaduais ou federais, ele deixou de ter aquela função de fazer leis, vistoriar, seguir os passos do Executivo, para agora o parlamentar só se falar em obras: “eu fiz ponte, fiz estrada, para o município tal...”

Eu avalio que a emenda parlamentar acabou distorcendo a função dos parlamentos brasileiros de uma maneira geral, seja estadual ou federal. Só falam em emendas e deputado não é para isto. Ele tem que falar quais as leis eles fizeram ou defenderam, políticas públicas, e não de construir pontes ou estradas, etc. 




Deixe um comentário

Campos obrigatórios são marcados com *

Nome:
Email:
Comentário: