Rafaela Maximiano
A pandemia de Covid começa a cair em todo o mundo e as atenções voltam-se para um outro vírus: o Monkeypox, cujo avanço tem despertado preocupação desde abril deste ano e recentemente se tornou uma Emergência de Saúde Pública de importância internacional.
O “vírus do macaco” foi anunciado em julho deste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma nova emergência sanitária em nível global.
Na Entrevista da Semana, o médico infectologista e professor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Luciano Corrêia Ribeiro, esclarece dúvidas sobre a doença e explica que alguns aspectos do surto de monkeypox ainda precisam ser melhor compreendidos pela comunidade científica.
“Estamos passando por um surto sim, pois ele se define quando você não tem nenhuma doença em determinada localidade e de repente ela aparece. Então é um surto porque não tínhamos nenhum caso de Monkeypox na história recente da medicina. Mas o risco de virar uma pandemia com risco de mortalidade como foi o da Covid, de sobrecarregar o serviço de saúde, essa discussão ainda não se veicula como provável”, pontua o especialista.
Boa Leitura!
O que é o Monkeypox e como e dá a sua transmissão?
O Monkeypox é um vírus, muito antigo, documentado no continente africano na década de 50. Era considerada uma zoonose. O comportamento dela era bastante esporádico levando a manifestações ulceradas na pele. Principalmente na face e no tronco. A contaminação era de poucos casos geralmente por animais infectados e no continente africano, os casos na Europa, por exemplo ocorriam com a circulação de primatas ou tráfico de animais.
Porém de março para cá um surto foi documentado inicialmente na Europa, de um paciente que veio da Nigéria, e passou a ser notado que o comportamento da doença estava um pouco diferente em relação a sua descrição inicial dos casos que ocorriam até então no continente africano. Onde basicamente passou a acometer homens que fazem sexo com homens e levando aí a uma disseminação rápida da doença no continente Europeu, nos Estados Unidos e agora no Brasil.
É uma doença que tem um período de incubação em torno de cinco a sete dias e que leva a um período de sintomatologia de até três semanas. Nesse momento atual a doença basicamente tem se mostrado de lesões ulceradas pustulosas na região ânus genital com aparecimento de ínguas na mesma região. Diferente do comportamento da doença que conhecíamos que ocorria na África, onde as lesões apareciam mais na face.
É uma doença que tem uma natalidade de 1% a 10% e que o risco maior de contaminação é pelo contato direto de uma pessoa doente para uma pessoa sadia. E associa alta probabilidade de uma via de transmissão também sexual, pois o vírus já foi encontrado no sêmen. Por isso ela é mais prevalente entre homens que fazem sexo com homens.
Com relação à manifestação clínica são basicamente o aparecimento de feridas na pele e na região perianal, dores intensas nessas lesões, e, o risco de complicação se dá por infecção em cima das feridas ou encefalite que é a meningite pelo vírus. Mas de um modo geral é uma doença alto imunizada que em um período de três semanas a pessoa se recupera do vírus plenamente.
O contato pessoal ainda, pela relação sexual, ainda não está 100% confirmada, mas vai se confirmar sim como veículo de transmissão da doença.
Mas é importante deixar registrado que 97% dos pacientes que estão com o Monkeypox são homossexuais do sexo masculino.
Existe a transmissão por gotículas respiratórias?
Também. É raro essa chance, mas existe sim a transmissão por gotículas, principalmente daquele paciente doente no convívio intradomiciliar, ou seja, em casa. Para esses pacientes é recomendado o uso de máscaras.
Quais os sintomas que as pessoas precisam ficar atentas?
Naqueles pacientes de grupos de risco, principalmente homens que fazem sexo com outros homens, se aparecer feridas, úlceras, pústulas, na região ânus genital e na pele de um modo geral, deve-se procurar de imediato um profissional da área de saúde, de preferência um infectologista, para que ele possa encaminhar para fazer o diagnóstico. Hoje existe uma rede para esse diagnóstico de coleta, tanto do SUS quanto privada. E a coleta do material para exame tem que ser da ferida, então existe uma técnica especifica para se fazer.
E para os contactantes intradomiciliares é basicamente monitorar os sintomas. Se aparecer alguma coisa diferente procurar o serviço de saúde. Mas é importante deixar registrado que 97% dos pacientes que estão com o Monkeypox são homossexuais do sexo masculino.
Após confirmado esse diagnóstico qual é o tratamento?
Basicamente sintomáticos, para controle da dor e para evitar o surgimento de infecção secundária. Existe um antiviral, que ainda não está disponível no nosso meio, mas que tem efeito na fase aguda da doença. É um antiviral específico. E no futuro, já existe a proposta de uma vacina - porque a varíola do macaco tem uma prima que é a varíola humana, inclusive foi a primeira doença erradicada no mundo por meio de vacina, mostrando a importância de se fazer uma vacinação adequada. Então, existe também uma vacina, que logo vai estar disponível para aqueles profissionais que vão ter aquele contato direto com esses pacientes. A princípio a discussão que se faz é dessa forma.
Estamos passando por um surto dessa doença? Há possibilidade de se tornar uma pandemia também?
Estamos passando por um surto sim, pois ele se define quando você não tem nenhuma doença em determinada localidade e de repente ela aparece. Então é um surto porque não tínhamos nenhum caso de Monkeypox na história recente da medicina. Mas o risco de virar uma pandemia com risco de mortalidade como foi o da Covid, de sobrecarregar o serviço de saúde, essa discussão ainda não se veicula como provável.
Acredito que vai ser uma doença que vai ter um comportamento forte entre alguns grupos populacionais, mas a probabilidade de ter um comportamento pandêmico é muito baixa. Isso porque ela não é transmitida por aerossol, o forte da transmissão do Monkeypox é por contato direto.
Quem foi vacinado contra a varíola humana está protegido, ao menos parcialmente?
Não. Estão desenvolvendo já uma vacina específica.
Como nos proteger nesse momento dessa doença?
A recomendação principal é monitorar se aparecer alguma lesão do tipo por exemplo, uma catapora, ou uma lesão que gere uma ferida. Se, a pessoa fez uma viagem para fora do país e teve contato direto com algum paciente infectado, é a mesma recomendação. O que tem que se entender é que não dá para fazer um alerta, um alarde, para a população em geral, colocando todos com medo de pegar o Monkeypox.
Eu acho que o principal fator é alertar a população de risco, principalmente os homossexuais que têm sido o carro chefe como pacientes infectados, sob o risco da transmissão. Lembrando que o uso de preservativo não evita a transmissão dessa doença, pois a transmissão se dá por contato direto, ou seja, a pessoa tem alguma ferida e a pessoa sadia tem o contato com essa ferida.
Animais domésticos também podem ser contaminados?
Já vi um relato, mas isso precisa ser melhor estudado para ver se não foi um caso isolado, ou se de fato continuar sendo um risco de transmissão, mas tem um relato se não me engano na França de um cachorro que se infectou do seu dono que estava com Monkeypox. Pode ser que tenha esse tipo de comportamento também, dos Pets serem infectados.
A pessoa infectada abraça o pet, encosta pode passar, mas isso ainda precisa ser melhor documentado assim como falar que é uma doença de transmissão sexual. Isso porque é tudo muito recente, a gente ainda está aprendendo e as informações têm sido geradas em tempo real praticamente.
Por que vem sendo discutido a necessidade de mudar o nome da doença “varíola dos macacos”?
É bem complexo porque quando se fala Monkeypox ou varíola dos macacos, de certa forma você está associando o vírus aos primatas, aos macacos e isso tem caráter discriminatório gigante. É igual você falar do mongolismo, a doença de Down no passado era chamada de mongolismo. E, existe um país chamado Mongólia e nem todo mundo que nasce lá tem síndrome de Down. Então quando falamos essas conotações uma parte da população, e já vimos isso, exterminando macacos. E não se assim que se dá o mecanismo de transmissão e nem todo primata é vetor do vírus Monkeypox. Quando falamos em mudar a nomenclatura da doença é para justamente evitar esse tipo de situação.
Essa nomenclatura foi dada em 1930, quando se descobriu o vírus e o momento que a gente vive hoje de globalização e de discriminação de fake news gigante que não ajuda.
Considerações finais...
Eu acho que aqueles pacientes de grupos e risco, que tem comportamento sexual de risco, não discriminando, muito pelo contrário tem que informar e deixar essa observação, se tiver alguma ferida; se fez uma viagem para fora do Estado ou país e voltou com alguma lesão, que procure o serviço de saúde, para que se faça o diagnóstico.
Lembrando que a capacidade maior de transmissão é por contato direto com a lesão ativa, lembrando que o indivíduo pode ficar doente por até 21 dias, em alguns casos até um mês, e, nesse período é um foco importante de transmissão. A pessoa pode ser transmissora por até 15 dias. Naqueles indivíduos já doentes que se faça o isolamento domiciliar inclusive com o uso de máscara para evitar a transmissão para outras pessoas da família, nós só vamos controlar a doença quando a gente bloquear o mecanismo de transmissão, ou seja o indivíduo infectado.
Vale lembrar que a doença está em franca ascensão, no mundo inteiro inclusive no Brasil, e, nós já temos casos aqui na nossa localidade, portanto ela é uma realidade. Por hora, são casos que vieram de fora, mas se não houver uma atenção bem forte por parte desse grupo de risco, principalmente os homossexuais do grupo masculino, pode ser que logo ela vai ser transmitida no ambiente comunitário, ou seja, as pessoas vão pegar aqui sem ter saído do Estado, da cidade.
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