Ale Boiani
Uma vida financeira equilibrada geralmente é aquela a qual a pessoa vive abaixo das possibilidades financeiras, e mantém investido cerca de 30% de tudo o que ganha, separando estes valores em caixinhas de reserva de emergência, visando objetivos de curto, médio e longo prazo.
Na prática, não é o que acontece na maior parte das vezes. A maioria dos brasileiros incorpora à vida os limites que tem no cartão de crédito e no cheque especial.
As questões comportamentais têm grande impacto na vida financeira, e por mais que as pessoas saibam que o ideal seja não se endividar e guardar para comprar à vista, o consumidor geralmente tem crises de "eu mereço" e sai gastando mais do que deveria.
Ao me deparar com o perfil de cliente "gastão", que tem dificuldades de guardar dinheiro, e que sempre afirma que 'não sobra', costumo sugerir que reflita e considere fazer uma transição de 'gastador' para 'poupador', por meio de dívidas de valor.
A opção é tema de muita polêmica no mercado financeiro, porque é claro que não é o ideal, mas sempre acredito que o tempo vai passar de qualquer maneira, e que algumas pessoas precisam construir patrimônio de maneira diferente da convencional.
Mas o que são dívidas de valor? O termo jurídico explica que é quando você tem um compromisso de pagamento para adquirir um bem no final, e não para devolver o dinheiro, como é o caso do empréstimo, que é uma dívida de dinheiro.
Ao fazer um consórcio, por exemplo, a pessoa está fazendo uma dívida de valor. Aquela mensalidade vai caber no orçamento do mês, o que acaba sendo um dinheiro que se não fosse gasto com isto seria gasto com alguma coisa supérflua, e ao invés disso, a pessoa está adquirindo um carro ou um imóvel. No caso de falecimento no meio do caminho, a dívida fica quitada e o patrimônio passa a ser dos herdeiros.
Outro exemplo de dívida de valor é um investimento regular, como a previdência. Esta opção funciona da seguinte forma: se estipula um valor mensal de envio com o objetivo de chegar a um objetivo de saldo para se aposentar, comprar uma casa, um carro, viajar ou pagar universidade. Ou seja: em resumo, vira um 'caixa' para projetos que podem ser ou não a aposentadoria, e assim como o consórcio, os sonhos não ficam no meio do caminho. Neste caso, caso ocorra falecimento, o valor vai para os beneficiários, sem a necessidade de fazer um inventário.
Um financiamento também é uma dívida de valor, mas neste caso, os juros que se paga no meio do caminho penalizam bastante a falta de disciplina de não ter guardado dinheiro. Especificamente nesta situação, o ideal é que ao fazer um financiamento, por mais que seja por um prazo longo - como 30 anos - a pessoa se programe para ir fazendo adiantamentos ao longo do caminho, o que permite a amortização da dívida. Assim como nos casos anteriores, ocorre a transferência do patrimônio para herdeiros, em caso de morte.
Volto a dizer que o ideal é poupar, investir e comprar à vista, mas ao ser honesto consigo mesmo e entendendo o seu perfil e comportamento, talvez chegue à conclusão de que se não for por este caminho, pode acabar pagando aluguel até o fim da vida, por exemplo, e que a despesa que teria mensalmente neste aluguel poderia estar sendo investida na criação de um patrimônio.
*Ale Boiani é CFP, Empresária, Assessora de Investimentos e Corretora de Seguros. A especialista também é CEO, gestora e fundadora do grupo financeiro 360iGroup , fundado há 11 anos e que tem cinco linhas diferentes de negócios nas áreas de seguros, finanças, investimentos e planejamento patrimonial, sucessório, tributário e fiscal. A profissional possui experiência de mais de 20 anos na área, e a companhia soma 1,3 bilhão sob administração e mais de 2.500 pessoas capacitadas.


Ainda não há comentários.
Veja mais:
Homem é condenado a 19 anos por crime com requintes de crueldade
Justiça mantém prisão de homem acusado de arrastar mulher na rua
Operação da PC derruba esquema para direcionar contratações
Bancos promovem mutirão para negociar dívidas bancárias em atraso
O aposentado com AIDS tem direito à isenção do Imposto de Renda?
Tribunal de Contas alerta sobre acúmulo de aposentadoria e pensão
Por que as empresas estão investindo em MDM (Mobile Device Management)
Quando o amor te olha!
Novo desembargador no TJ: Governador nomeia Ricardo Almeida
MP crava: Justiça reconhece crime ambiental por desmate ilegal