Orcival Gouveia Guimarães
Costumo dizer que, para quem produz algodão, cada ano é um desafio. E não é exagero. Este 2025 foi mais um desses períodos em que a resiliência do produtor precisou falar mais alto. Enfrentamos uma combinação difícil. Preços mais baixos, margens mais apertadas e um clima atípico, com chuvas intensas que atrasaram os manejos, aumentaram custos e fizeram as lavouras vegetarem mais do que o esperado. Foi um ano de grande esforço, de tomada de decisões difíceis e de ajustes constantes dentro da porteira.
A alta dos custos para produzir e a baixa remuneração da pluma pesaram nas contas. Muitos produtores precisaram rever suas estratégias e o resultado aparece nos números recém-divulgados pelo Imea para a safra 2025/26: Mato Grosso deve ter uma queda de 14,46% na produção de algodão em caroço, com projeção de 6,26 milhões de toneladas. Quanto à produção de pluma deve atingir 2,58 milhões de toneladas e a área plantada encolheu 7,28%, chegando a 1,43 milhão de hectares. Não é uma decisão tomada de forma leviana: é uma resposta inevitável ao cenário econômico.
Contudo, é importante lembrar que a cultura segue sustentável, tecnificada e com produtividade consistente. O Imea manteve a projeção de 290,74 arrobas por hectare, baseada na média das safras anteriores. Mas ainda lidamos com incertezas como a semeadura da soja, que em algumas regiões foi impactada pelas chuvas irregulares, o que pode refletir no algodão de segunda safra.
O desafio não é apenas agronômico ou econômico. A logística continua sendo um gargalo que pesa no bolso do produtor. Ainda temos notícias de caminhões parados até 15 dias nos portos para conseguirem descarregar. Isso é custo e perda de competitividade e que exige que avancemos em infraestrutura e que continuemos lutando por soluções estruturantes, como a ampliação da capacidade de armazenagem no Estado, fundamentais para assegurar liquidez e previsibilidade aos produtores.
Apesar das dificuldades enfrentadas em 2025, o algodão brasileiro continua forte no mercado internacional. Mesmo com a retração da área no país, a Stone projeta uma produção nacional de 3,695 milhões de toneladas na safra 2025/26 – ainda assim, suficiente para manter o Brasil como maior exportador mundial de algodão.
A própria Anea estima que nossas exportações podem crescer cerca de 10%, alcançando 3,2 milhões de toneladas entre julho de 2025 e agosto de 2026. É a demonstração de que nosso produto continua competitivo, reconhecido e desejado pelos principais mercados, como China, Vietnã, Bangladesh, Turquia, Paquistão e, mais recentemente, Índia.
Esses números mostram que, mesmo quando a rentabilidade dentro da porteira é desafiadora, o algodão brasileiro segue ganhando espaço lá fora. Isso só acontece porque produzimos com qualidade, tecnologia, rastreabilidade e sustentabilidade, pilares que Mato Grosso consolidou e que agora se tornaram referência mundial. Temos estoques importantes a serem comercializados, mercados diversificados e um produto que mantém prêmio competitivo.
Encerramos 2025 conscientes das dificuldades, mas também confiantes no trabalho que estamos fazendo. Para 2026, a palavra continuará sendo cautelosa. Mas também persistência. Sabemos que não existe ano fácil para quem planta. O que existe é planejamento, adaptação e a certeza de que a união do setor, a ciência e o compromisso dos produtores continuarão conduzindo o algodão mato-grossense a resultados sólidos.
Cada ano é, sim, um desafio. Mas também é uma oportunidade de aprender, ajustar e seguir avançando. E é isso que continuaremos fazendo.
*Orcival Gouveia Guimarães é produtor rural e presidente da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão.

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