Alfredo da Mota Menezes
Muitas vezes um fato histórico é distorcido e fica assim por muitos anos. Transforma em “verdade” pela repetição constante e isso ocorre muitas vezes até em livros e salas de aulas. Fico com um que se espalhou por alguns países latino-americanos.
A invenção histórica é que a Inglaterra provocou a Guerra do Paraguai. Que a potência europeia manipulou três países, Argentina, Brasil e Uruguai para destruir o perigoso Paraguai. Que o Paraguai se desenvolvera tanto que amedrontava a Inglaterra. Esse inventado desenvolvimento paraguaio era na indústria e que isso poderia provocar perdas para os ingleses na região. Frente a esse perigo a nação europeia resolveu destruir o tal modelo autônomo do Paraguai.
Paraguai potência industrial? A imaginação leva a essas coisas. Um país sem mar, pouca população, isolado, criou meios e mecanismos para se tornar uma potência industrial e passar a ser supridor da região. Onde foi buscar tecnologia e capital para criar essa suposta industrialização?
Como competir, se tivesse a tal indústria, com potências que tinham mais tecnologia e capital abundante para produzir e vender? Quais produtos produziam os paraguaios para seduzir os países da área em comprar ali e não do bazar europeu? A Europa, além de vender os produtos, também os financiava. Que capital teria o Paraguai para financiar o Brasil, por exemplo, para comprar seus produtos industrializados?
No Paraguai viviam e trabalhavam um monte de técnicos ingleses, basicamente na área militar. Tinham sido contratados antes da guerra. Por que, diabos, a Inglaterra iria ajudar uma suposta ameaça a seu poderio? Era só impedir a vinda dos tantos técnicos ingleses para o Paraguai, oras.
Essa criatividade histórica tem como base o momento que vivia a América Latina e que, na interpretação de muitos, não crescia porque o empecilho era a acachapante presença dos EUA na área. Como modelo na história foram buscar o pequeno Paraguai no século 19 que queria crescer economicamente e os interesses britânicos impediam isso.
Os EUA faziam na América Latina o que os ingleses supostamente fizeram com o Paraguai. Para dar base a essa suposição inventou-se uma guerra destrutiva para matar o tal modelo. Coisas esquisitas da história e que, interessantemente, ficam no imaginário popular.
A verdade histórica para a guerra foi que a região estava conflagrada há muito tempo. Lutas e fricções políticas internas, como a guerra civil no Uruguai entre Blancos e Colorados e que atingia a província do Rio Grande do Sul e que, por pressão forte do Congresso nacional, levou o governo brasileiro a ir ao Uruguai tomar duras satisfações e aumentou o fogaréu.
Problemas de fronteiras, de navegação, de expansão territorial, confronto entre liberais e conservadores, lutas civis em países diferentes que um dia explodiu e levou ao maior conflito armado da América Latina por cinco anos.
Despachos diplomatas ingleses e tantos documentos de diferentes países mostram que tudo aquilo foi uma invenção regional. Que, apesar de se ter outras interpretações hoje, se encontra ainda pessoas e até livros defendendo essa tesa esquisita e sem nenhuma prova histórica.
Alfredo da Mota Menezes é Analista Político.
E-mail: pox@terra.com.br site: www.alfredoemenezes.com


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