• Cuiabá, 12 de Julho - 2025 00:00:00

A pandemia está muito longe de ser resolvida, alerta especialista da UFMT


Rafaela Maximiano - Da Redação

“A pandemia não acabou e está muito longe de ser resolvida. Muita coisa positiva já aconteceu mediante o avanço da vacina, mas as medidas de precauções não deverão ser eliminadas e nem relaxadas, estamos longe disso”. 

O alerta é do médico infectologista e professor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Luciano Corrêia Ribeiro. Também pontua que o avanço da vacinação impactou positivamente na redução do número de pacientes infectados e nos casos graves da doença; porém um “relaxamento da população poderia resultar na circulação do vírus e suas variantes”. 

Uma análise do cenário atual da pandemia da covid-19 foi tema da Entrevista da Semana. Ao FocoCidade o infectologista clínico explica porque pessoas já vacinas com duas doses podem contrair o vírus e até morrer, porque as variantes surgem com altas taxas de infecção e transmissão, qual a importância e porquê da terceira dose ou dose de reforço, entre outros assuntos. 

“A regra número um: imunização. A regra número dois ainda continua sendo as medidas de precauções. O que significa isso: evitar grandes aglomerados, fazer uso continuo da máscara e a lavagem das mãos. Eu acho que só assim a gente vai ter um pouco de paz de espírito para que possamos continuar a nossa vida próximo da normalidade”, recomenda o infectologista Luciano Corrêia Ribeiro. 

Confira na íntegra:

Como o senhor avalia o atual cenário de pandemia em Mato Grosso levando em consideração os índices de vacinação e de contágio?  

A gente observa que a história natural da doença em Mato Grosso, ela vem mudando de maneira positiva e propositiva, muito significativamente, nos últimos dias. Eu diria que de uns 30, 40 dias para cá, isso está diretamente relacionado ao avanço da vacinação em todo o Estado, que tem corroborado de maneira muito positiva, no índice de casos novos, na diminuição de pacientes infectados, e também, na diminuição de pacientes com maior gravidade. Isso tem passado de forma positiva, na taxa de ocupação das Unidades de Terapia Intensiva no nosso Estado, que hoje gira em torno de 33% - segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde. Só para se ter uma ideia, nos meses de fevereiro, março e abril, nós tivemos mais de 100% de taxa de ocupação das Unidades de Terapia Intensivas no Estado, com demanda reprimida. Então, o que a gente vem observando progressivamente, nos últimos dias, é que o número de pacientes infectados tem diminuído, assim como a, evolução da gravidade da doença, e, a variável que corroborou de forma direta para isso foi o avanço da vacinação em nosso Estado, aliás, no Brasil inteiro.  

Diante desse cenário, a sensação que temos é que as pessoas acreditam que acabou a pandemia, tudo está aberto, pessoas frequentando academias, shoppings, bares, casas noturnas. As pessoas tomam a vacina e passam a descuidar. A pandemia acabou? 

Não, a pandemia está longe, muito longe de ser resolvida. Eu acredito até que a gente vai conviver com esse vírus no nosso meio. Muita coisa positiva já aconteceu mediante o avanço da vacina, mas as medidas de precauções não deverão ser eliminadas e nem relaxadas, está longe disso.  

O que a gente tem observado, por exemplo, na nossa clínica é que, as pessoas têm se infectado no ambiente familiar. A contaminação está acontecendo via família, porque é justamente nesse esse local onde se relaxa no uso da máscara, tem um contato mais próximo. E, esses novos casos que a gente tem diagnosticado unicamente acontecem nesse ambiente. Portanto, sim, a gente deverá começar a ter uma vida próxima da normalidade, porque isso faz parte da nossa história, da nossa vida. Mas, as medidas de precaução não deverão ser eliminadas, muito pelo contrário, evitar o máximo possível o contato social, o uso continuo da máscara, porque existe a história da reinfecção que é real, e assim como as variedades.  

Então, a partir do momento em que o vírus está circulando, e as pessoas continuam se reinventando, a possibilidade de novas variantes, ela é real. E aí, numa dessa mutação viral surge uma cepa mais agressiva e faz com que as coisas voltem ao patamar anterior. 

Portanto, eu acredito que enquanto 100% da população não estiver plenamente vacinada com a segunda dose da vacina, e agora discutindo até uma terceira dose, as medidas gerais de isolamento social não deverão ser relaxadas sob o risco de o surgimento de novas infecções, novas variantes, e corrermos o risco de uma forma mais agressiva da doença, onde o indivíduo vai parar numa UTI correndo o risco até de óbito. 

O que a gente tem observado, por exemplo, na nossa clínica é que, as pessoas têm se infectado no ambiente familiar.

As pessoas tem dificuldade de entender que a vacina não impede de contrair o vírus. Como funciona a vacina no organismo para que as pessoas possam entender independente da marca ou laboratório?  

Agente tem que deixar claro que todas as vacinas funcionam. Então, eu costumo dizer que o pior vírus que tem na face da terra, não é nem o coronavírus é o vírus da fake news, onde soltaram notícias negativas em relação à vacina e essas notícias tomaram uma proporção gigante o que atrapalhou imensamente o início do nosso programa de imunização no Brasil e, o resultado disso foram mais de 550 mil óbitos no país.  

O que a gente tem observado num tempo principalmente, nesses meses aí pós- vacinação é que ela não vai eliminar o vírus, mas ela vai diminuir imensamente o risco de uma forma mais agressiva da doença, de uma pneumonia, uma lesão pulmonar maior, com um grau de comprometimento respiratório maior. Então, que a gente tem observado é que, mesmo com a vacina as pessoas ainda estão se infectando, muitas delas se reinfectando, porém, na ordem do dia, no sentido de ser avaliar a gravidade da doença temos observado na nossa prática clínica que as pessoas vacinadas têm evoluído com uma forma muito leve da doença. Então a vacina visa sim uma proteção, uma imunização, evitando o adoecimento, objetivo número um e, uma vez isso não acontecido, porque tendo em vista essas diversas variantes que a gente tem convivido aí no mundo inteiro, aqueles indivíduos uma vez vacinados e infectados têm evoluído com uma forma leve da doença. Isso tem corroborado para uma diminuição da taxa de internação, uma diminuição da taxa de ocupação de leitos de unidades de terapia intensiva e diretamente na diminuição da mortalidade, que é o que a gente tem observado nos últimos dias.  

... o risco de o surgimento de novas infecções, novas variantes, e corrermos o risco de uma forma mais agressiva da doença.

A vacina nem sempre reduz a forma grave da doença e mesmo com as duas doses a pessoa pode contrair o vírus e pode vir a morrer, porquê? 

Isso pode acontecer sim. Só que isso não é a regra é a exceção. Então, o que a gente observa que tem sido divulgado na imprensa de uma forma aterrorizadora e sensacionalista é que o indivíduo tomou uma dose da vacina ou duas doses da vacina e pegou morreu. Isso é um indivíduo e um universo de milhões de pessoas. E, isso não acontece só com a vacina do coronavírus. Acontece com a vacina da influenza e outras vacinas. Nenhuma vacina garante 100% de imunidade, nenhuma. Isso aí, já a gente já sabe de outras vacinas para outras infecções.   

O que acontece de forma pontual não significa que vai acontecer na população em geral. A gente tem que olhar o índice maior, minimizando a modalidade. Pode acontecer que o indivíduo que tomou vacina a doença, adoeça na sua forma grave da doença e venha a falecer. Aí você tem que olhar outras variáveis, não só diretamente a vacina, por exemplo, se ele tinha comorbidade, se ele era diabético, obeso, se era idoso, se tomava algum remédio que baixava a imunidade, se fazia quimioterapia, porque muitas das vezes são até mais significativos na ordem da gravidade da doença do que propriamente a vacina. Se o organismo está muito debilitado, com a vacinação ele não consegue produzir anticorpos suficientes para protege-lo da doença.  

Nenhuma vacina garante 100% de imunidade, nenhuma.

E quanto às variantes da covid-19, já se sabe porque elas surgem e cada vez mais fortes ou perigosas? 

A doença até pouco tempo atrás estava descontrolada. Então quando as pessoas vão se infectando e uma vai passando para outra, para outra, para outra, em larga escala, porque o vírus tem uma alta taxa de infectividade, isso faz com que o vírus vá sofrendo mutações. A partir do momento que ele está circulando em larga escala na população. A denominação dessas mutações a gente chama de variantes.  

Tem variantes que são mais agressivas no sentido de levar uma doença mais forte, mais intensa e tem variantes que são mais transmissíveis, que passam mais fácil, essa variante Delta por exemplo, na letalidade ela é um pouco menor, mas na capacidade de transmissão ela é muito maior. E, isso só vai diminuir quando a gente conseguir frear em larga escala a transmissão da doença, por vacina e pelo uso continuo da máscara. 

Qual a importância da terceira dose, ou a dose de reforço, no combate à pandemia, ela deve ocorrer para todas as idades?  

Isso tem sido discutido, essa terceira dose é uma realidade, hoje no Programa Nacional de Imunização ela está sendo ofertada para aqueles indivíduos de grupo de risco, que tenham porventura algum grau de imunossupressão a exemplo dos idosos, que é justamente aonde a pandemia veio com uma força maior, principalmente no começo.   

Essa terceira dose, visa a grosso modo, dar uma carga maior de estímulo para a produção de anticorpos e, consequentemente, garantir imunidade dessa população de risco. Eu acredito que mais ao longo do tempo, ela deverá se estender para grande parte da nossa população também.  

Uma curiosidade: o calor de Mato Grosso realmente mata o vírus e inibe o contágio da covid-19? 

Não, nada a ver. São coisas totalmente distintas, diferentes e isoladas. Se fosse assim não teria morrido o tanto de gente que morreu aqui em Mato Grosso, não teria infectado o tanto de gente que infectou aqui no Estado e no Brasil inteiro, porque o Brasil é um país tropical. 

Se você for na Índia, que é um país tropical, lá também foi um arraso. Então, isso é mais uma dessa fake news que se criou em relação ao vírus. O vírus não respeita calor, não respeita frio, não respeita nada, Ele consegue se adaptar amplamente em qualquer ambiente. Ele precisa ter uma pessoa doente tossindo e uma pessoa suscetível por perto para ele infectar, independentemente de estar a menos 10 graus no Canadá ou a 42 graus em Cuiabá.  

Para se ter uma ideia passamos aqui essa semana a 45 graus e eu recebi paciente novo no consultório com covide. Portanto, são coisas totalmente distintas. 

Quais suas orientações à população mato-grossense tendo em vista esse cenário explanado pelo senhor?    

Primeiro passo: acredite na vacina. A vacina funciona, independente da marca. Não existe nenhum preconceito com relação a marca, se é de país A, B ou C, toda a população deve, sim, ser vacinada, de forma completa, com no mínimo duas doses. Hoje a vacinação já avançou para a população mais jovem, então os jovens também devem se vacinar. A regra número um: imunização.  

A regra número dois ainda continua sendo as medidas de precauções. O que significa isso: evitar grandes aglomerados, evitar situações de contato com pacientes que estejam com algum sintoma respiratório, e, fazer uso continuo da máscara e a lavagem das mãos.  

Eu acho que só assim a gente vai ter um pouco de paz de espírito para que nós possamos continuar a nossa vida próximo da normalidade. Vacinação e medidas e precauções, que significa uso da máscara, isolamento social na medida do possível e a lavagem das mãos. Se a gente conseguir fazer isso, e observo já está bastante sedimentado na nossa população, o resultado vai ser a doença sendo amplamente controlada no nosso meio.  




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