Javier Milei, presidente da Argentina, andou atirando farpas no presidente do Brasil. Lula pediu que ele se desculpasse e isso não ocorreu. A Ministra das Relações Exteriores da Argentina é que andou colocando panos quentes nessa anomalia entre os dois países.
O presidente argentino esteve num encontro em Camboriú da direita politica latina americana. E ali mais cutucões no presidente do Brasil. A aceitação mais em voga é que é uma briga entre esquerda e direita na América Latina.
Alguns até criticaram o encontro da direita em Camboriú. Não deveriam pensar assim, pois existe o Fórum de São Paulo, encontro dos que atuam mais à esquerda do espectro politico. Cada um na sua, bastando que não atravesse o quadrado normal da democracia na região.
Voltando ao caso da Argentina e Brasil. Os dois presidentes que tenham suas posições politicas. Que tenham bronca um do outro, por esse ou aquele motivo. O que não pode é atrapalhar o relacionamento histórico entre os dois países. Sejam o que queiram ser, mas não vá machucar essa longa aproximação entre essas duas nações.
Nunca houve um desentendimento maior entre os dois povos, com exceção óbvia no futebol. Brasil e Argentina sempre jogaram juntos em tantos casos. Até mesmo no maior conflito armado da América Latina, a Guerra do Paraguai entre 1865/1870. Houve a Tríplice Aliança, Brasil, Argentina e Uruguai contra Solano Lopez do Paraguai.
Hoje, no comércio entre os dois lados, o Brasil, em 2023, exportou para a Argentina mais de 83 bilhões de reais, terceiro maior importador de bens do Brasil, e importou perto de 60 bilhões, terceiro maior exportador para o Brasil. A Argentina é a que compra mais bens industriais do Brasil, como geladeiras, fogões e sapatos. Não se vende isso para os EUA ou para a China. Aquelas compras são um incentivo à industrialização no país.
Mais uma vez: não é porque os presidentes do Brasil e Argentina hoje defendem pontos de vistas políticos diferentes que devem os dois países chegar a algum ponto de desentendimento que atrapalhe esse bom relacionamento entre os dois lados. A diplomacia, os ministérios exteriores de cada pais tem que trabalhar para que nada de anormal aconteça entre os dois interesses.
O que tem de errado a Argentina está hoje na politica mais para a direita e o Brasil para a esquerda? Na Europa, a Itália tem governo mais à direita e na França, e agora na Inglaterra, mais à esquerda e não se vê desentendimento que chegue a um patamar desagregador do relacionamento entre aqueles países. Até mesmo dentro da integração econômica na União Europeia a coisa é normal.
Será que aqui na América do Sul vai haver uma cizânia dentro Mercosul porque um presidente do Brasil é de um lado politico e o da Argentina de outro? Será que o não comparecimento de Milei à cúpula do Mercosul em Assunção é algum sinal nesse absurdo desentendimento? Bolsonaro, também da direita, não gostava muito dessa integração econômica. Que nada de anormal ocorra entre Brasil e Argentina neste momento. Matariam o Mercosul.
Alfredo da Mota Menezes é professor, escritor e analista político.
E-mail: pox@terra.com.br
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