Nos variados grupos de discussão dos quais participo, volta-e-meia surge a pauta pelas indicações políticas para cargos executivos. Quem é melhor: um perfil técnico ou político? Inicialmente, imagino que devam estar tomando “técnicos” como conhecedores do assunto do ponto de vista acadêmico formal e “políticos” como os detentores de mandato ou pessoas ligadas a partidos políticos, com ou sem habilitação técnica para a pasta a ser ocupada.
Em geral, nos debates, há um forte menosprezo ao diploma universitário, ao mestrado e doutorado. Argumenta-se que eficiência e honestidade passam ao largo da capacitação intelectual. De fato, uma coisa é certa: honestidade não é disciplina universitária, e sim o resultado de um largo processo educacional e vivencial. No entanto, vejo esse desprezo à formação universitária como uma espécie de recibo de frustração própria (ou complexo) de quem a desmerece. Em silêncio, parece que o cético ao ensino formal grita – eu não precisei estudar. E, em voz alta, cita uma porção de exemplos de casos bem-sucedidos sem diploma universitário.
Vamos colocar os pingos nos is: 1) a educação formal não garante honestidade, assim como a falta dela também não; 2) a educação formal não garante o sucesso, mas a falta dela aumenta a probabilidade de fracasso; 3) a educação formal é um índice seguro para medir o desenvolvimento de um país e a falta de acesso universitário é compreendido como limitação individual e coletiva, empobrecimento técnico, de inovação e iniciativa; 4) o serviço público não demanda conhecimento acadêmico aprofundado, mas não vejo como a educação formal seja um obstáculo em si.
Resumindo: a receita de sucesso não existe. O que há é a lei da probabilidade. Quanto mais um país estuda, mais desenvolvido ele é. Quanto mais estudo, maior é a riqueza nacional. Isso não é uma opinião. É uma realidade percebida por meio de inúmeras pesquisas. Um político semianalfabeto, completamente alheio à pasta que vai comandar, pode dar certo? Por certo que sim. No caso afirmativo, é provável que haja uma boa equipe que conheça bem os meandros da máquina pública, além de um alto grau de sensibilidade do próprio gestor. No entanto, a probabilidade de fracasso é enorme.
Os casos de sucesso citados por uma margem significativa de céticos são exceções. As exceções, no geral, só confirmam a regra. Em Mato Grosso, uma fronteira agrícola mundial, é comum vermos multimilionários que não sabem escrever um bilhete ou usar os talheres de forma convencional. É verdade. Mas não significa que esses casos relativamente comuns no nosso meio nos leve à conclusão de que o estudo não é importante e deva ser desprezado. Ao contrário: esses grandes empreendedores têm a sensibilidade de mandarem os filhos e netos às melhores escolas do Brasil e do exterior a fim de perpetuarem a fortuna construída com muito trabalho duro e honesto.
Eles, no fundo, sabem que é uma questão de tempo para que os negócios sofram crises, caso não haja uma equipe “tecnicamente” preparada. De outro lado, as grandes empresas do agronegócio contratam os melhores técnicos, gente profundamente qualificada na educação formal, com mestrado e doutorado nas melhores universidades nacionais. Ora, se é assim, na iniciativa privada, por que não haveria de ser nos cargos públicos por comissão/indicação?
Sou até contundente demais nesse tema. Quando o papo evoluí para um pensamento medíocre no qual a educação superior é desvalorizada, relativizada, mal comparada, fico profundamente incomodado por saber que se trata de um sofisma. É bem verdade que a riqueza surge do trabalho, mas se multiplica com o conhecimento.
Temos orgulhos falaciosos no Brasil. Um deles é ostentar uma riqueza primária, oriunda do agronegócio, onde a exportação de commodities não industrializadas não compartilha riqueza, não gera conhecimento, não agrega desenvolvimento sustentável. Considerar que é um privilégio ser o “celeiro do mundo” é uma ilusão tão equivocada como ficar feliz estando “deitado eternamente em berço esplêndido”. Ao contrário da campanha publicitária da Globo, o agro não é pop e não é tudo. Longe disso. A educação sim, deveria ser pop, tech e tudo para nós.
Eduardo Mahon
Advogado, escritor, membro da Academia Mato-Grossense de Letras (AML) e sócio correspondente da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.
Amando Aparecido Rosalen disse:
28 de DezembroVerdade Eduardo,temos que deixar de nos contentar em ser um sistema de produção primário, nossa indústria está cada vez mais debilitada por falta de investimentos, nossas instituições que poderiam produzir novos conhecimentos e tecnologia está relegada ao quarto ou quinto plano...