Se, em 1980, alguém perguntasse a um cidadão comum, analista econômico, um líder empresarial ou algum líder político se Mato Grosso poderia se tornar uma potência agrícola nacional nas décadas seguintes, provavelmente a reposta seria a mesma: não!
Contrariando as expectativas da época, Mato Grosso tornou-se, nos últimos quarenta anos, uma das grandes potências agropecuárias do Brasil e do mundo. Graças a um conjunto de fatores, que vão desde as pesquisas desenvolvidas pela estatal Embrapa, que tornaram produtivas as terras do cerrado, decisões geopolíticas de ocupação territorial até grandes programas de financiamentos baratos para aquisição de terras do cerrado e seu cultivo, o estado transformou-se num competidor mundial e o maior estado agropecuário brasileiro.
Na produção de soja, por exemplo, se Mato Grosso fosse um país, ficaria atrás apenas dos Estados Unidos e Brasil e à frente da Argentina. Na produção de milho, algodão e carnes também o estado é campeão nacional e grande “player” global.
Atualmente, a pergunta poderia ser refeita para outro setor importante da economia local, a indústria. Seria possível Mato Grosso se tornar, nas próximas décadas, uma potência industrial? Repetir o caso de sucesso extraordinário do setor agropecuário?
A resposta é complexa e exige uma série de considerações e contextualizações econômicas, sociais e políticas que não se esgotarão neste artigo. Até mesmo porque a história não se repete, a não ser como uma farsa. Já consideradas as circunstâncias atuais, bem diferentes das de 1980, alavancar a industrialização regional é tarefa das mais difíceis para os governos federal, estadual e o mundo empresarial.
Mas a industrialização é condição sem a qual Mato Grosso não conseguirá manter o ritmo acelerado de crescimento das últimas quatro décadas e dificilmente subirá ao panteão dos estados mais desenvolvidos do país.
A literatura econômica aponta que não há casos de regiões ou países que alcancem bom nível de desenvolvimento econômico e social, com a consequente melhora da qualidade de vida dos seus cidadãos, baseado apenas no setor agropecuário. É preciso que seus setores industrial e de serviços sejam tão fortes quanto o agrícola. O crescimento dos setores agropecuário, industrial e serviços não são excludentes. Ao contrário, são complementares.
A prova pode ser verificada ao analisarmos o perfil da economia dos estados brasileiros com melhores níveis de desenvolvimento econômico e social, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro.
Todos apresentam robusta participação da indústria e dos serviços em seus respectivos PIBs, e tiveram em seu começo a prevalência do setor agropecuário. Paulatinamente, foram fortalecendo os setores da indústria e de serviços, até transformarem-se nos estados mais ricos do Brasil. Todos continuam com produção agrícola expressiva, mas se tornaram potências industriais.
Em nível internacional não é muito diferente. O grande salto da economia americana deu-se justamente com o avanço extraordinário da sua indústria, dos serviços e de suas universidades. A China, nas últimas três décadas, retirou da pobreza quase novecentos milhões de pessoas, alavancada pelo excepcional crescimento da sua indústria e de sua área de serviços. Ambos os países, as duas maiores economias mundiais, continuam sendo potências agrícolas mundiais.
À guisa de exemplo, Mato Grosso é um dos maiores consumidores de fertilizantes, tratores, colheitadeiras, implementos agrícolas, caminhões de carga e não temos nenhuma indústria desses segmentos em nosso território. O estado é campeão agrícola nacional, mas não tem nenhuma feira agropecuária entre as dez maiores do país. Temos uma grande base florestal, mas não existe aqui nenhuma fábrica de celulose nem de móveis de luxo.
Não se conhece uma fórmula pronta para acelerar a industrialização de Mato Grosso, mas sim uma constatação unânime: a industrialização e desenvolvimento do setor de serviços são os próximos grandes desafios de todos os mato-grossenses. Caso contrário, podemos ficar conhecidos apenas como uma grande “fazenda do mundo”.
Vivaldo Lopes é economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP (vivaldo@uol.com.br)
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