No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou estado de pandemia em relação à Covid-19. São três anos de combate a um vírus que vitimou cerca de 6,8 milhões de pessoas ao redor do mundo e que precisou do melhor que a humanidade tem a oferecer em termos de inovação e cooperação para ser controlado. Segundo a OMS, no período de 23 de janeiro a 19 de fevereiro deste ano, houve uma diminuição de 89% no número de casos e de 62% no número de mortes em relação aos 28 dias anteriores.
Enquanto o fim oficial da pandemia não é decretado, já é possível celebrar os avanços na área da saúde conquistados nesses últimos três anos. Em primeiro lugar, a produção em tempo recorde de vacinas, com diferentes tipos de tecnologia empregadas para a sua confecção -- RNA, vetor viral ou vírus inativado. Já estamos na fase de atualização desses imunizantes para lidar com as variantes que surgiram, levando menos da metade do tempo em que as vacinas pré-pandemia eram fabricadas e disponibilizadas para a população.
Outro avanço relevante foi a incorporação da telessaúde à rotina dos pacientes. Particularmente no Brasil, em termos legais, a Lei 13.989/2020, que regularizava a utilização da telessaúde durante o período pandêmico, foi revogada e substituída pela Lei 14.510/2022, que normatiza de maneira definitiva a prestação remota de serviços relacionados a todas as profissões da área de saúde.
Embora ainda seja mais utilizada no setor privado, a telemedicina já é empregada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e por boa parte dos médicos. De acordo com o estudo Os múltiplos usos da telemedicina durante a pandemia: as evidências de uma pesquisa transversal com médicos no Brasil (em tradução livre), conduzido pela Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e Queen Mary University of London (Reino Unido), cerca de um terço dos médicos declarou ter praticado "teleconsulta" ao longo da pandemia. A telemedicina ainda foi utilizada para a discussão de quadros clínicos (55%), reuniões de serviço (48%) e na capacitação e atualização de conhecimentos (40%).
É preciso falar ainda dos dispositivos de aferição e controle, que já vinham ganhando popularidade com os wearable gadgets, conhecidos aqui como dispositivos vestíveis, e tiveram um boom com a pandemia. Vários estudos mostram que o mercado global de dispositivos vestíveis voltados à saúde deve chegar a US? 30,1 bilhões até 2026.
Além dos conhecidos relógios e pulseiras com biomonitoramento, a tecnologia vem sendo integrada ao ambiente domiciliar. Hoje existem sensores integrados a colchões para o monitoramento do sono, banheiros com tecnologias para medir glicose no sangue e níveis de ureia na urina, entre tantas outras possibilidades. E há ainda o desenvolvimento de uma tecnologia vestível que consiga medir os principais mecanismos cerebrais através da pele, podendo monitorar a saúde mental do usuário.
Principal legado da pandemia, essas inovações, e outras que virão com os avanços tecnológicos, no entanto, sempre devem ter como objetivo principal a democratização do acesso da população à saúde de qualidade e o bem-estar dos pacientes.
*Fernando Silveira Filho é presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Tecnologia para Saúde (Abimed).
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