• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Ativismo perene e tóxico

Vivemos um momento delicado no Brasil e em boa parte do mundo em desenvolvimento. A passagem de um estágio social para outro trouxe junto a potencialização de comportamentos por vezes tóxicos e doentios. Isso ocorre quando a obsessão por problema passa a superar a necessidade de resolução e também quando os problemas passam a ser importantes para a existência da pessoa.

Usualmente ativismo pode ser entendido como militância ou ação continuada com vistas a uma mudança social ou política, privilegiando a ação direta, através de meios pacíficos ou não, que incluem tanto a defesa, propagação e manifestação pública de ideias que defendem os ideais de uma causa, religião, ideologia, partido político. O que podemos resumir em “pessoas engajadas em uma determinada causa”. Até aí nada errado. Muito pelo contrário, pois é assim que a humanidade se desenvolve.

A questão ganha uma distorção quando ela sai do campo da racionalidade para a obsessão e/ou realização pessoal do ego doentio. Ou seja, vira doença! Neste caso até a perspectiva de solução passa ser uma ameaça ou um mal. A política partidária está impregnada deste contexto tóxico e perene. E no seu entorno há um conjunto de pessoas que repetem absurdos como se fossem um mantra, quando na verdade são apenas discursos disseminados por grupos dominantes da suposta “causa”.

É facilmente detectado a toxidade do ativismo quando o interlocutor já está mais preocupado com o ataque ou a defesa da pessoa que representa, ou que supostamente fala que defende tal causa, do que com a própria causa em si. Dois exemplos recentes sobre isso nós encontramos entre lulistas e bolsonaristas, que defendem eles e não suas ideias.

Isso sempre existiu e já foi até mais forte no período do getulismo dos anos 30 a 50 do século passado. Como afirmou Friedrich Nietzsche: “as vezes as pessoas não querem ouvir a verdade porque não desejam que suas ilusões sejam destruídas”.

Acontece que este comportamento tem aparecido com mais frequência também nas causas humanas e ambientais. A ampla divulgação de crimes ambientais, feminicídio, infanticídio, homofobia, racismo e etc. tem provocado uma onda doentia de ambos os lados: reacionários e defensores. Restritamente são grupos que tem no enfrentamento o próprio prazer de existir. Assim como fazem os torcedores de futebol que param de ver o seu time jogar para brigar com a torcida adversária.

Há pessoas sofrendo e morrendo. Isto significa que temos problemas reais em todos estes campos abordados que precisam urgentemente serem resolvidos. Para tanto, precisamos afastar os obsessivos, os ativistas tóxicos e perenes, os amantes do problema pois, para eles só interessam as bandeiras das causas e os fuzis. Pessoas, problemas e soluções são apenas mercadorias a serem manipuladas para satisfazer seus desejos sombrios de ataques.

 

João Edison é Analista Político, Professor Universitário em Mato Grosso.



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