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A Palavra Aberta

  • Artigo por Emanuel Filartiga Escalante Ribeiro
  • 27/07/2023 07:07:37
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Toda escrevedura é, lá no fundo, um oferecimento de palavras, uma proposta de conversa, uma vontade de amizade. É dizer, um momento de solidariedade e humanidade. A pessoa, o ser humano, é a terra das palavras, o húmus. 

Minha composição sem mérito quer ser capaz de olhar o que não se olha, mas que vale ser olhado. Traz vontade de mirar o mundo através do buraco da fechadura (um dia, quem sabe, arrebentar a porta toda. Não... a vida é mistério!). Dar um sentido solene e alto às palavras de todo dia. 

Só que a "coisa linguageira" não pode ser tida e contida nos limites da oração, da frase, da sílaba e do fonema. O texto nunca quer se render. Acho que ouvi em Saussure que o texto busca devolver a linguagem às pessoas e o significado às palavras. 

Tecer é vontade de fugir, fugir infinitamente da palavra dada, imposta, pronta. Compor as palavras é vontade de pular para outro lugar, um lugar sem nome, fora das classificações, das normas... dessas "coisas idênticas", como disse Nietzsche. Sair por aí vendo joão-de-barro andando pelo chão e folhas de palmeira abanar com o vento. 

Toda escrita é uma busca de resposta. "Las palavras que podemos decir son, em el fondo, las palabras que podemos decirnos". 

As palavras vivem com a gente no dia a dia, se fundem com os nossos gestos e ações, se entranham nos nossos sentidos. Atravessam o coração da pessoa, com todas as suas imprecisões e contradições, levantam pouco a pouco o imenso cenário que define, limita e desenha a nossa vida. 

Já houve um tempo, não muito apartado, que a palavra (o texto e a linguagem) era o nosso único meio de comunicação. Nesse tempo palavrador éramos submetidos a imaginar. Imaginar o que as palavras nos diziam e o que dizer. E imaginar é estar com a gente mesmo, é nos construir, é estar aberto ao mundo. Imaginar compõe o pensamento. 

É o murmúrio silencioso do nosso dentro e a linguagem, amigo leitor, o que somos, que falam e colocam o que vemos na vida. Diga a palavra de você, escute-a, teça seu texto. Ande por aí produzindo a palavra aberta. 

 

*Emanuel Filartiga é promotor de Justiça em Mato Grosso. 



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